quarta-feira, 26 de novembro de 2008

"Resto do Mundo" . projecto-fotográfico

" BATMAN" por Mauro Pinto em Maputo

Mauro Pinto nasceu em Maputo há 34 anos.
Estudou fotografia por correspondência na África do Sul.
Começou a fotografar em 1994.
- Mas profissionalmente, só em 2000.
"Mauro disse que Arminda tem um dom da palavra, e tem mesmo.
- Eu estava uma pessoa, agora sou outra. Já sou mais moçambicana que eu mesma. Usam o governo para me atingir, para me tirar tudo, mas aqui eu já sou livre. Ninguém me incomoda porque sou pobrezita. Também tive acidente. Parti os braços. Foi uma agressão.
Quem?
- São pessoas que nem dá para pronunciar o nome.
Arminda fala agarrada aos joelhos, desviando os olhos para a esquerda e para a direita, parando de repente.- Não me deixo levar. Não deixo de ser eu. Eu vivo segundo o desejo do meu coração. É como se fosse Jesus a andar em cima das águas. "
Por Alexandra Lucas Coelho (Público)
Leia mais aqui; http://jornal.publico.clix.pt/default.asp?url=%2Fmain3.asp%3Fpage%3D4%26dt%3D20081119%26id%3D15092066%26q%3Dmauro

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Daniel Da Costa

Foto; Sérgio Santimano (da série; "Índia Intima-1995") Puscar - Rajastan - Índia
Enganam-se os que esperam de mim esta noite uma dissertação sobre A Flauta do Oriente. Não tenho bases teóricas para falar sobre flautas nem de notas musicais. Mas, no título do livro, está uma coisa que sempre me fascinou: o Oriente.
O Oriente pode parecer à partida uma ideia muito distante.Mas na verdade, não é. Por vezes, até acho que todos nós transportamos dentro de nós uma costela do Oriente.
Já me explico.
Moçambique, por exemplo, é um nome de raiz árabe. Mesmo a nossa cidadania foi construída aos tiros e tem fundações orientais. Eram de fabrico chinês as armas com as quais os nacionalistas iniciaram a luta armada em 1964.
Pela janela do Oriente já tinham entrado antes muitas coisas úteis à vida, à nossa segurança e conforto: o vidro, a pólvora, a porcelana, a seda. O navegador Vasco da Gama não escalou Inhambane por morrer de amores por nós. Ele ia a caminho daIndia à busca de especiarias e precisava de reaprovisionar os seus navios com água e mantimentos frescos.
Foi do Oriente que vieram a bússola, a acupunctura, as missangas e a milenar ciência dos xaropes. Nos tempos de crise, de lá também veio o petróleo com a chancela de amizade. Muitos anos depois, o nosso amigo do Oriente acabou na forca e nós não conseguimos sequer enviar uma simples nota de condolências. Para as nossas elites, ainda hoje étabu pronunciar o nome de Saddam Hussein. Mas as histórias de amizade não se deviam apagar com a borracha da hipocrisia.
1Felizmente, o Oriente não cabe todo numa forca. O Oriente tem sabido guardar ensinamentos milenares sobre a vida e sobre a arte de amar o próximo. De lá foram trazidas as grandes religiões – o budismo, o cristianismo, o islamismo, etc. Para a felicidade dos amantes, de lá também veio o Kama Sutra, uma filosofia que aspessoas resumem a marca de preservativo ou umas tantas posições sexuais para o ano todo.
Mas a nossa relação com o Oriente não está só embrulhada com incompreensões. Creio por vezes que também está rodeada de injustiça. De um modo geral, a nossa memória colectiva não tem sido justa para com as contribuições do Oriente.
Durante muito tempo, deixámo-nos embriagar pela euforia das maiorias. Não soubemos respeitar a vida, a liberdade e a propriedade.
Mas as maiorias não precisam necessariamente de cair na demagogia. Para se afirmarem, não precisam de roçar o populismo barato. Para sermos uma maioria de qualidade, tem-nos faltado por vezes a nobreza de respeitar as minorias. Tem-nos faltado o tacto da elegância e o cultivo do respeito pela diferença.
A sabedoria antiga diz-nos, aliás, que há uma coisa que difere os grandes homens dos pequenos. Os grandes homens sabem ser pequenos. Só os homens pequenos é que insistem em dar o espectáculo de quererem ser grandes a todo o custo e a toda a hora– os pequenos e os tolos.
Como nação, corremos o risco ser sermos vistos como tolos na esteira da nossa toada quase sempre megalómana. Aos olhos do mundo, parecemos ter a propensão para esmagar os pequenos, para atropelar os pequenos, para aniquilar os pequenos, ignorando a suahistória, as suas peculiaridades, as suas tradições, ferindo susceptibilidades.
No passado, não havia aviões, telemóveis nem internet. Mas já fomos mais abertos, mais tolerantes, mais inclusivos.
Do Oriente, chegaram até nós muitas famílias à busca de prosperidade e souberam ganhar a sua vida com modéstia. Há nomes aos quais os naturais de Tete não podem ficar indiferentes.
2Quem não conhece a família Gande, Bega, Tulcidás, Karamchande ou Catogo? Tanto quanto eu saiba, são ícones de referência no desenvolvimento comercial da região.
A História destas famílias merecia outro tratamento para escaparem à erosão do tempo. Temos a obrigação de investir na memória dos netos dos nossos netos.
Mas não é só com linhas de comércio que se escreve a História da nossa região. Bonga, por exemplo, foi uma das figuras que se opôs, com bravura, à presença colonial portuguesa. Pelas suas façanhas, ele constituía um terror para os invasores europeus e foi tratado como herói pelos naturais da zona.
E Bonga não era preto. Tinha ascendência goesa. O explorador Livingstone, a caminho da então Niassalândia, chegou a dizer que se tinha cruzado por estas bandas com um branco esquisito que de branco só tinha a cor da pele.
Esta contribuição do Oriente não tem nome de rua ou de escola pública no Município de Tete. Se calhar, tinha de matar mais alguns ocupantes. Mas não sei se esta pérola da História também vai escapar à erosão do tempo.
Isto porque, é demasiada a arrogância histórica que prevalece nem alguns centros de decisão. Se não conseguirmos olhar para Moçambique como uma zona de confluência de civilizações estamos perdidos como nação. Somos um repositório de culturasdiversas.
Antropologicamente, somos ricos. Temos uma costela bantu - maioritária, uma costela europeia e uma costela asiática. A nossa sociedade reflecte essa base de formas diversas. Tentar apagar com borracha esse legado é um investimento infeliz.As minorias não se revêem nos nossos serviços públicos, nos nossos manuais escolares, nos rituais da nossa terra. Simplesmente, não têm espaço. Mas, ao almoço, muita gente se interroga: onde está o piripiri?
Agora pergunto eu: quando será que o nosso nível de diálogo vai ultrapassar o piripiri, o chá e algumas chamussas? Quando é que vamos ultrapassar o prato de apas e o cofió?
Benga, por exemplo, teve um ancoradouro bastante movimentado. Não estará escondida na esquecida linha férrea de Benga alguma surpresa do Oriente? Se calhar são muitas perguntas para uma só noite. Sei que a exportação de madeira, por exemplo, tem uma alavanca oriental.Há polémica à volta desse comércio.
Mas é chegada a altura de nos reconciliarmos com o Oriente e a sua História, no país e no nosso Município. E ao reescrevermos essas páginas do passado, há que ter em atenção este detalhe: sempre é possível perceber a qualidade das maiorias pela formacomo elas tratam as suas minorias, pela forma como as integram ou como as excluem, pela forma como as contribuições das minorias são imortalizadas ou abandonadas ao capricho do tempo.
Hoje quis falar do Oriente, mas haverá certamente outras ocasiões tratarmos o Ocidente. A ponte sobre o rio Zambeze, quem a construiu? A Missão de Boroma, quem a concebeu?
Há silêncios que nos deviam envergonhar como cidadãos desta urbe. E reparem que ainda estou no campo das minorias. Não galguei ainda pelas avenidas maioritárias, onde, para mim, a conversa deverá logo começar com o nome do músico LázaroVinho.
Se o país é nosso, se a cidade é nossa, se o Conselho Municipal é nosso, se César de Carvalho também é nosso, porque que é que até hoje o músico Lázaro Vinho não é nosso?
Mas, enfim, hoje não estamos para navegar em plataformas bantu nem em qualquer outra plataforma que não a oriental. Isto, porque, no início, prometi que a minha dissertação seria sobre o Oriente e a isso que me devo cingir.
Muito obrigado.
Com a devida vénia;http://www.manueldearaujo.blogspot.com/

Casa-Museu de José Craveirinha transformada em Museu e Património Cultural da Cidade

foto; Sérgio Santimano (Maputo- 2000, Craveirinha olha para o retrato da sua esposa em sua casa)


A CASA-Museu do poeta-maior José Craveirinha, da Mafalala, vai ser transformada em Museu e Património Cultural da cidade de Maputo.
Esta acção surge na sequência de uma proposta do Plano de Actividades e Orçamento para 2009, apresentado ontem pelo Presidente do Conselho
Municipal da Cidade de Maputo, Eneas Comiche, no decurso da XXV sessão ordinária da Assembleia Municipal.
A residência onde viveu o maior poeta moçambicano foi transformada em casa-museu em 2005, e em meados do presente ano, o Chefe do Estado,
Armando Guebuza, descerrou uma lápide com os indicativos da Casa-Museu.

É uma acção que decorreu no ano em que se o poeta fosse vivo completaria,
em 28 de Maio, 85 anos.
Armando Guebuza exaltou a coragem e determinação do homem que “soube fazer da literatura uma arma para a libertação dos moçambicanos”.
Os feitos de José Craveirinha, falecido a 6 De Fevereiro de 2003, em muito se identificam com as mais nobres causas que os moçambicanos abraçaram ao
longo do tempo.
Um homem de cultura e desporto, passando pelo jornalismo, constitui um importante factor de exaltação e celebração da moçambicanidade.
A casa-museu contém um vasto espólio de trabalhos já divulgados e outros inéditos do poeta, que constituem um rico legado para a memória cultural e
histórica de Moçambique.
Dentre muitas obras de arte e de literatura existentes na casa do poeta-maior consta uma representativa colecção de obras de arte, com trabalhos de
artistas como António Bronze, Malangatana, Samate Mulungo, João Júlio, Chichorro, óleos de Bertina Lopes, desenhos de Idasse Tembe, Zeca Craveirinha.

Encontram-se ainda esculturas de arte makonde, cerâmicas, máscaras, reproduções de telas de Gauguin, Cézzane e de Pablo Picasso, para além de uma
colecção da indumentária do poeta.
Estão ainda na casa do poeta discos de grandes artistas do jazz como são os casos de Duke Ellingtin, Lady in Saty, Billy Holiday, Count Basie,
Charlie Parker, John Coltrone, Jazz Naturaly, Johnny Hartman e Mahalia Jackson. Está ainda uma boa colecção de Fanny Mpfumo.
Na biblioteca consta um espólio de mais de três títulos, bem como um manancial de caixas de outros locais onde estão guardados materiais inéditos.
Consta ainda uma infinidade de medalhas, certificados de méritos e diplomas de honra que o poeta arrecadou, bem como as insígnias e os prémios com
que o poeta foi distinguido, um dos quais é o Prémio Camões, em 1991, que é a maior distinção literária da Língua Portuguesa.
Com a devida vénia; RM (Rádio Mocambique).

domingo, 23 de novembro de 2008

Eleicões Autárquicas 2008

In Jornal Domingo .......23/11/2008
O PARTIDO Frelimo é o virtual vencedor das terceiras eleições autárquicas, realizadas quarta-feira no país, um acto que teve como principal derrotado a Renamo, ao perder para o seu rival político os cinco municípios que governava desde 2003. O grande destaque deste pleito teve como palco privilegiado a cidade da Beira, onde a Renamo perdeu a presidência do município e o domínio da Assembleia Municipal, a favor, respectivamente, do candidato independente Daviz Simango e da Frelimo. Simango suplantou, com indiscutível vantagem, os candidatos dos dois maiores partidos nacionais, nomeadamente, Lourenço Bulha (Frelimo) e Manuel Pereira (Renamo), qualificando-se para a sua própria sucessão.

Maputo, Sábado, 22 de Novembro de 2008:: Notícias


sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Foi há 8 anos.....

CARLOS CARDOSO foi barbaramente assassinado nas primeiras horas da noite do dia 22 de Novembro de 2000, na avenida Mártires da Machava, momentos após sair da redaccão do METICAL (jornal via fax) aonde era o seu Editor.
No sábado (22.Nov.) haverá uma vigilia no local do assassinato ás 18h00m.
A Associacão "Ponte " Mocambique - Suécia, solidariza-se com este acto e estará presente espiritualmente.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

E se Obama fosse africano?

Foto; Sérgio Santimano (Metangula) 2002 Niassa - Mocambique
Por Mia Couto
Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.

Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.

Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.

Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: "E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.

E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?

1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.

2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.

3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.

4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).

5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.

6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.

Inconclusivas conclusões

Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.

Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.

A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.

Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.

No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.

Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.

domingo, 9 de novembro de 2008

Morreu Miriam Makeba

(4 March 1932 - 10 November 2008)
Morreu ontem no sul de Itália, após um concerto, vítima de ataque cardíaco, com 76 anos, a cantora sul-africana Miriam Makeba

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

B.O. no Quénia

Comentário: os fatalistas estruturais dirão que nada irá mudar na história americana, que Obama será, apenas, mais um presidente ao serviço do Capital e do predadorismo militar. Os optimistas estruturais dirão que muita coisa irá mudar, que Obama irá introduzir uma página substancial de Estado social no livro do neo-liberalismo e reduzir o predadorismo.
Mas escutem: nunca a história avança com as grandes coisas, mas com as pequenas.
A história muda quando, no sovaco da vida, germinou uma diferença, pequena que seja.
E Obama é essa diferença, a sua eleição foi e é essa diferença.
Ele vai ser uma diagonal entre as duas teses.
Pouco a pouco, contra racistas e racializantes.
Com África inteira dentro dele, cumprindo seu destino queniano. N'Kosi sikeleli Africa!
Com a devida vénia; http://oficinadesociologia.blogspot.com/

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Barack OBAMA


WWW.BARACKOBAMA.COM


"Olá, Chicago! Se alguém aí ainda dúvida de que os Estados Unidos são um lugar onde tudo é possível, que ainda se pergunta se o sonho de nossos fundadores continua vivo em nossos tempos, que ainda questiona a força de nossa democracia, esta noite é sua resposta."