quinta-feira, 28 de outubro de 2010

”África em foco”

África em foco
Bok & Bibliotek (Göteborg Book Fair), 23- 26 Setembro 2010 (introdução)
Realizou-se em Gotemburgo mais um BokMässa (Feira Internacional do Livro).
Este ano como convidado principal vários Países africanos com os seus escritores.
Na abertura oficial esteve a escritora Nigeriana Sefi Atta que viria a receber pelas mãos da ministra da cultura sueca Lena Adelsohn o prémio literário “Noma Award”; Carin Norberg, directora do Instituicão Nordica para África, também participou neste acto, abrilhantado depois com a presenca músical de Dobet Gnahoré (Costa do Marfim).
Pelo palco desta feira em Gotemburgo foram desfilando mais de 70 convidados, dez editores de 28 Países africanos, 62 seminários, entrevistas ou apresentações.
Um conhecido escritor dizia que de África, conhecemos as suas danças, os seus batuques, praias , hoteis de luxo, etc., mas sobre a sua intelectualidade pouco ou nada sabemos deste continente…
De uma maneira geral, pelas palestras por mim presenciadas, notava-se por parte de alguns escritores um certo desânimo sobre a realidade actual, interrogando-se as geracões que lutaram e se sacrificaram pelas suas idependencias e liberdades, se era isto que se vê nos dias de hoje o espelho das suas aspiracões….?
Sem dúvida que este foi um grande passo para a divulgação dos escritores do nosso continente, muitos deles já com grande projecção internacional, e sempre com aquela vontade de a este estágio virem a chegar muitos mais, num futuro breve… Procurando aumentar mais o interesse pela literatura africana na “cena internacional”. Certamente que em quatro dias não se pode conhecer tudo sobre a literatura deste continente, mas um passo importanto foi já dado, não só o de trazer os escritores africanos como também as suas editoras, porque são estas, afinal, que tem a possibilidade de fazer a divulgação dos livros nos paìses nórdicos. Sem duvida que esta apresentacão da literatura africana nos paises nórdicos foi a maior de sempre!
Photo e texto by Sérgio Santimano

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

para site de fotografia africana

Kari JANTZEN (fotógrafa norueguesa) by Sérgio Santimano, Gotemburgo/Setembro 2010.
AFRICAN PHOTOGRAPHERS & Diaspora DEADLINE EXTENDED TO 30 OCT 2010



The webzine "This is Africa" has asked me to "curate" a weekly slideshow of interesting work by the new generation of African photographers (at "home" and abroad). 10 - 15 images per slideshowIf interested, kindly send me images on nonstick23@gmail.comof your work as well as contact details, and we'll take it from there.

(esta mensagem vem da minha amiga e fotógrafa Lolo VELOKO).

quinta-feira, 14 de outubro de 2010


A. Magaia homenageado com lançamento de livro

14/Outubro/2010 O jornalista e escritor moçambicano Albino Magaia, falecido a 26 de março de 2010, foi homenageado esta quarta-feira, em Maputo, numa cerimónia que teve lugar no Centro Cultural Universitário em que o mote foi o lançamento da sua sexta obra literária.
Moçambique: Raízes, Identidade Nacional” é o título do livro de Albino Magaia, lançado a título póstumo, no qual o jornalista e escritor propõe uma reflexão sobre a identidade cultural e políticas nacionais, no contexto da história e unidade nacional.
Editada pela editora Ndjira, com o patrocínio da mcel, a obra faz uma abordagem contemplativa sobre a origem de uma nação, com base na construção de uma identidade.
O namoro entre a Ndjira e Albino Magaia para a publicação desta obra iniciou há longa data, mas só em Fevereiro deste ano é que começou a ganhar corpo a ideia de transformar os escritos do jornalista em livro, graças a aproximação existente entre o autor e a editora, na pessoa de Fernando Couto, segundo explicou Ceslo Muianga da editora Ndjira.
Numa cerimónia a que estiveram presentes amigos e colegas do malogrado, coube ao jornalista e escritor Tomás Vieira Mário fazer a apresentação da obra e retratou a "aversão ao conformismo" que sempre caracterizou Albino Magaia na sua incessante luta pela construção de uma identidade nacional. “Albino Magaia foi um intelectual público que não se fechou no campo universitário, saiu à rua atraves da publicação de livros e de entrevistas em que o seu patriotismo era por demais evidente”.
Intervindo na cerimónia de lançamento da obra, o Presidente do ConseIho de Administração da Moçambique Celular, Teodato Hunguana, referiu que “ cabe à mcel exprimir a emoção, alegria e orgulho, de termos tido a oportunidade de nos associarmos a este ritual de lançamento do livro de Albino Magaia”.
“Magaia foi-se libertando da lei da morte, ao longo da sua vida como escritor e como jornalista, através do seu legado”, disse Hunguana, realçando que “temos indicações de que vamos encontrar nesta obra a continuação da partilha de ideias: temos a certeza que encontraremos um Magaia dialogando connosco, discutindo e debatendo ideias e isso o perpetua entre nós”.
Na ocasião o poeta calane da Silva declamou um dos poemas de Albino Magaia intitulado “Nós descolonizámos o Land Rover” como forma de recordar o lado nacionalista do escritor, algo também referenciado por Lina Magaia, irmã do jornalista, que em nome da família referiu que esta obra “é um contributo para a reflexão da moçambicanidade”.
Albino Fragoso Francisco Magaia nasceu a 27 de Fevereiro de 1947 e, em vida, publicou cinco obras, nomeadamente “Trilogia do Amor” (poesia), “Informação em Moçambique: A Força da Palavra” (ensaio), “Malungate” (prosa), “Yô Mabalane!” (prosa) e “Assim no tempo derrubado” (poesia).
Alfredo Lituri (Texto e Fotos)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Livro de Albino Magaia sai quarta-feira em Maputo

foto; Sérgio Santimano (Nacala) 1995.
13-Outubro-2010
“MOÇAMBIQUE: raízes, identidade e unidade nacional” é o título de um livro do falecido escritor e jornalista Albino Magaia, que passou pelo “Notícias” e que a editora Ndjira lança na quarta-feira em Maputo. Com uma apresentação do escritor Ungulane Ba Ka Khosa, a cerimónia de lançamentento desta obra terá lugar na Imprensa Universitária, da UEM.
A obra, em que Magaia esteve empenhado até poucas semanas antes de perder a vida em Março, é uma abordagem àqueles três temas que o malogrado defendia serem de actualidade e de necessidade de debate no seio dos moçambicanos e com particular incidência para os jovens.

“Moçambique: raízes, identidade e unidade nacional” é uma viagem que o autor fez em factos e processos históricos do nosso país desde o eclodir das primeiras formas de manifestação do nacionalismo dos moçambicanos, algumas das quais ele testemunhou na sua juventude na cidade de Maputo.

Albino Magaia, decano do jornalismo, escritor e veterano da luta contra o colonialismo português em Moçambique, faleceu em Maputo aos 63 anos em finais de Março, vítima de doença. Até à data da sua morte o intelectual era administrador na Sociedade do Notícias, casa que serviu também como director.

As qualidades jornalísticas de Albino Magaia começaram a evidenciar-se ainda no período colonial. No entanto, foi na revista “Tempo” que ele atingiu o auge, tornando-se, no período áureo daquele semanário, num homem incontornável no jornalismo moçambicano do pós-independência. Mais tarde foi administrador-delegado da Sociedade do Notícias, de que era, até à data da sua morte, administrador no respectivo Conselho de Administração.

Durante a juventude e movido pelo espírito e pelos ventos da procura da liberdade para o seu país, Albino Magaia juntou-se ao movimento nacionalista que foi a Frelimo. Chegou a ser preso pela PIDE, a polícia política portuguesa, tendo cumprido pena na cadeia de Mabalane, em Gaza. Descreveu as memórias dos seus tempos de prisioneiro no livro “Yo Mabalane”, que lançou em 1983.

Para além de jornalista e combatente pela libertação dos moçambicanos do jugo colonial português, Magaia foi também um escritor apreciado. Foi membro fundador e depois secretário-geral da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO). Como homem das letras, Albino Magaia deixou como herança, para além das memórias de Mabalane, os livros “Malungate” e “Assim no Tempo Derrubado” e uma vasta gama de poemas, contos e outros escritos dispersos em antologias e órgãos de informação.

Albino Fragoso Francisco Magaia foi também membro do Núcleo dos Estudantes Secundários Africanos de Moçambique (NESAM), então presidido pelo actual Chefe do Estado moçambicano, Armando Guebuza. Foi um dos impulsionadores do Sindicato Nacional de Jornalista (SNJ), em tempos Organização Nacional de Jornalistas (ONJ).
Com a devida vénia; in Jornal Noticias (Maputo)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Cobertura

Foto Sérgio Santimano; Sindicato dos escritores Suecos. Estocolmo/Outubro/2010

Sexta, 01 Outubro 2010 14:56 Mia Couto
Não sei se há melhor material literário que um mal-entendido. As nossas vidas estão repletas de situações que descobrimos, tarde de mais, encobrirem algo bem diverso do que pensávamos. O próprio termo “mal-entendido” sugere que a norma seja o “bem-entendido”, quando, na maior parte das vezes, nem sequer damos conta da distância entre expectativa e realidade.
Um desses mal-entendidos ocorreu-me no tempo da Revolução em Moçambique, nesse período em que uma visão chamada de materialista e científica não suponha sequer existirem situações dúbias. O mundo era claro e a preto e branco, e os tons cinzentos eram objecto da maior desconfiança. Nesse mundo claro e simples eu era jornalista. E numa dada manhã, fui mandado fazer a reportagem de um comício num bairro suburbano. Vais cobrir o evento, disseram-me. Seguia num carro do Ministério de Informação, instituição para a qual trabalhava. Era um Mercedes preto cheio de aparência, mas pobre e podre por dentro. O banco da frente estava meio destruído e o motorista instou que me sentasse atrás.
- Atrás? Mas atrás como os dirigentes?, argumentei.
O motorista, porém, resmungou alto ininteligível e lá fomos devagar. A bem dizer, devagar era a velocidade máxima da viatura. No caminho, deparei com um colega da rádio, um jornalista de origem goesa que caminhava penosamente para o mesmo destino. Ele era o mais tímido dos jornalistas que conheci em toda a minha vida. Parei a viatura e ofereci-lhe boleia para o comício que ambos devíamos reportar.
Não demoramos a chegar. Uma multidão se acumulava num descampado e, ao depararem com a nossa viatura, abriram-se alas e um coro de saudações ascendeu aos céus. De imediato entendi: tomavam-nos pelos dirigentes que viriam orientar o encontro. Em desespero, tentei abrir a porta, mas o fecho estava encravado. Ficamos eu e Tiago rodeados por manifestações de júbilo até que o motorista – com a lentidão de um mordomo – nos abriu as portas, confirmando, aos olhos da multidão, o nosso estatuto de chefia.
Assim que saímos do carro, os responsáveis políticos do bairro rodearam-nos com infindáveis vénias e encaminharam-nos para o palanque que, como altar divino, se erguia mais à frente. O ruído era ensurdecedor e os cantos revolucionários não permitiram que nenhum dos anfitriões pudesse escutar as minhas atrapalhadas explicações. Resolvi subir de tom e a minha voz se impôs:
- Nós ficamos aqui, entre as pessoas. Não subimos lá…
A minha voz tinha-se imposto, mas a minha razão não. Porque logo os donos da casa, com um sorriso determinado, retorquiram: “nem pensar, lá é que é o vosso lugar…”
Subi as improvisadas escadas do palanque como quem sobe para um cadafalso. Num ápice e sem poder reagir, eu e o tímido colega, estávamos sentados nas grandes cadeiras de espaldar destinadas ao dirigentes revolucionários. No instante seguinte, o secretário do comité de bairro dirigia-se a um roufenho microfone e pedia à multidão o máximo silêncio para que pudessem escutar “as sábias orientações dos nosso responsáveis máximos”.
A voz me tinha fugido e eu me ocupava apenas em descobrir um copo de água para aplacar a súbita sede que me queimava a garganta. Para meu alívio, percebi que era o meu colega que estava sendo chamado a proceder a uma solene alocução. Era ele que estava sendo tomado pelo líder. “Camarada chefe, clamou o secretário do bairro, as massas populares anseiam por escutar as suas palavras”. Espreitei de soslaio: o meu amigo estava num farrapo. As pernas tremiam-lhe tanto que demorou uma infinidade a reagir. Ainda o escutei balbuciar:
- O que fazemos? E se chegam os autênticos chefes?
Não gostei do termo “autênticos”. Porque me pareceu, de repente, que ele mesmo já se assumia como um “falso” chefe.
- Vai ao microfone e explica…
- Explico o quê?
Não sei se respondi e ele não escutou ou se palavra nenhuma chegou a sair-me da boca. A verdade é que o nosso anfitrião, agora convertido num animador cultural, aproveitara a nossa demora para cantar e passara mesmo para a clamorosa fase dos “vivas” e dos “abaixos”. A multidão respondia em uníssono e era como se aquela sincopada agitação substituísse, em meu peito, o compasso do meu coração. Foi então que vi os pés do meu colega se arrastando como um condenado. Cada passo dele parecia arrancado das entranhas da terra. Chegado ao microfone ele tossiu e disse qualquer coisa de tal modo enrolada que um silêncio pesou em todo o imenso descampado. Levantou o rosto para enfrentar o microfone, e falou em voz trémula.
- Bom, é que nós… eu e o meu camarada colega…, começou ele, e repetiu várias vezes: quer dizer, nós não somos…
O silêncio pareceu agora tornar-se um nevoeiro espesso que inibia o movimento de cada um dos milhares de pessoas presentes. E logo o dinamizador do comício atacou com mais uma série de vivas que eu e o meu acanhado colega debilmente secundamos. E, de novo, se abriu espaço para o que o “sábio” dirigente se dirigisse ao povo. Tiago se ergueu nos bicos dos pés para melhor se fazer escutar:
- É que nós vimos aqui para fazer a cobertura.
E novo silêncio. De repente, alguém da multidão gritou: “a cobertura, finalmente vão fazer a cobertura!” E uma excitada gritaria percorreu os populares como um arrepio. E brados ecoaram, em festa: “a cobertura, vão fazer a cobertura…”
Nesse instante, se escutaram as sirenes. Chegavam os verdadeiros responsáveis políticos. Os presentes se entreolharam espantados. O seu bairro merecia a presença duplicada de dirigentes? Comprovei, então, o poder da aguda estridência das sirenes. Num segundo, a moldura humana à nova volta se desmanchou para se refazer junto da delegação que acabava de chegar. Ficámos (eu e o outro jornalista) abandonados no palco, com o mesmo sentimento que deve afligir líderes depostos e os reis mortos. Aproveitámos o momento para nos esgueirarmos. Quando já entravamos para o carro ainda escutamos algumas pessoas festejando. Festejam a chegada dos dirigentes, sim. Mas festejariam também a chegada da cobertura.