segunda-feira, 31 de março de 2008
sexta-feira, 28 de março de 2008
Bar Ka mpfumo
fotografia de Pedro Sá da BandeiraPara os Maputenses uma noticia sempre agradável .....aqui; http://kampfumo.blogspot.com/
Mocambique
Nestes dias com excesso de ruído em torno de Moçambique, olhei várias vezes para este belíssimo auto-retrato de Malangatana.
Pintou-o à minha frente e ofereceu-mo quando passou uns meses em Lisboa, no início da década de 70.
Tratava-me então, carinhosamente, por «patrícia».
É para mim quase uma relíquia, tenho-o sempre por perto, mas hoje saiu da moldura para o scanner.
quarta-feira, 26 de março de 2008
Exoneracão
Na foto; Tobias Dai
O presidente da República, Armando Guebuza, exonerou hoje o ministro da Defesa, Tobias Dai, tendo nomeado para o seu lugar Filipe Jacinto Nhussi. Ao exonerar Dai, seu cunhado, o presidente de alguma maneira responde às preocupações, aos protestos e à indignação de muitos que, faz muito tempo, desde as explosões de Malhazine a 22 de Março do ano passado, pediam a substituição do ministro agora exonerado.
Com a devida vénia;http://oficinadesociologia.blogspot.com/
segunda-feira, 24 de março de 2008
domingo, 23 de março de 2008
Pertenço a um País, o País do Chiconhoca
Foto; Sérgio Santimano da "série; terra incógnita"Niassa 2003
A crença geral anterior era de que Samora não servia, bem como Chissano.
Agora, dizemos que Guebuza não serve.
E o que vier depois de Guebuza também não servirá para nada.
Por isso, começo a suspeitar que o problema não está no DEIXA ANDAR deChissano ou na farsa que é o NÃO DEIXA FAZER de Guebuza.
O problema está em nós! Nós como povo!
Por isso, começo a suspeitar que o problema não está no DEIXA ANDAR deChissano ou na farsa que é o NÃO DEIXA FAZER de Guebuza.
O problema está em nós! Nós como povo!
Nós como matéria-prima de um País!
Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada,tanto ou mais do que o Dólar.
Um País onde ficar rico da noite para o dia é uma "virtude mais apreciada" do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.
Um País onde ficar rico da noite para o dia é uma "virtude mais apreciada" do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.
Pertenço a um País onde, lamentavelmente, os Jornais jamais poderão ser vendidos como em outros Países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só Jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao País onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particularesdos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos… e para eles mesmos...
Pertenço a um País onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo ou da DSTV, onde se frauda a declaração deIRPS e IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um País onde a falta de pontualidade é um hábito.
Onde os Directores das Empresas não valorizam o capital humano que tem antes pelo contrário os exploram.
Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do Governo por não limpar os esgotos.
Onde as pessoas se queixam quea luz e a água são serviços caros.
Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica.
Onde os nossos Políticos trabalham dois mizeros dias por semana para aprovar Projectos e Leis que só servem para caçar mais os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns que jÌ sabemos quem são.
Pertenço a um País onde as cartas de condução e as declarações e atestados Médicos podem ser "comprados", sem se fazer qualquer exame.
Um País onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no machimbombo, enquanto a pessoa que está sentadafinge que dorme para não dar-lhe o lugar.
Um País no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.
Um País onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no machimbombo, enquanto a pessoa que está sentadafinge que dorme para não dar-lhe o lugar.
Um País no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.
Um País onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos Governantes.
Quanto mais analiso os defeitos de Chissano e de Guebuza, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Samora é culpado, melhor sou eu como Moçambicano, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um Cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Quanto mais analiso os defeitos de Chissano e de Guebuza, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Samora é culpado, melhor sou eu como Moçambicano, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um Cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Não! Não! Não!
Já basta!
Como "matéria-prima" de um País, temos muitas coisas boas, mas falta muitopara sermos os homens e as mulheres que nosso País precisa!
Esses defeitos,essa "CHICO-ESPERTERTICE MOÇAMBICANA'"congénita, essa desonestidade empequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos na Política, essa falta de qualidade humana, mais do que Samora, Chissano ou Guebuza, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são Moçambicanos como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte…
Fico triste!
Fico triste!
Porque, ainda que Guebuza fosse embora hoje mesmo, o próximoque o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria primadefeituosa que, como povo, somos nós mesmos.
E não poderá fazer nada…
Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.
Nem serviu Samora, nem serviu Chissano e nem serve Guebuza, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a forçae por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa!
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a forçae por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa!
E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados… igualmente abusados!
É muito bom ser Moçambicano.
Mas quando essa Moçambinidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda…
Não esperemos acender uma vela a todos os Santos, a ver se nos mandam um Messias.
Nós temos que mudar!!
Um novo governante com os mesmos Moçambicanos nada poderá fazer!
Está muito claro…
Somos nós que temos que mudar!
Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a nos acontecer: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso.
É a indústria da desculpa e da estupidez!
Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido.
Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.
Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.
E você, o que pensa?…. MEDITE!
Texto original de
EDUARDO PRADO COELHO
terça-feira, 18 de março de 2008
Casa-Museu Eugénio Lemos
Ontem inaugurada a Casa-Museu Eugénio Lemos, sita ali à Machava na actual residência da sua família.
Nela fica exposto o acervo de obras do artista que está em posse familiar.
Ainda por definir, mas esperando-se que tal será para breve, está o sistema de acesso, calendário e horário, bem como a programação da casa-museu e seu conjunto de actividades.
Lêr mais aqui; http://ma-schamba.com/
OS PRIMEIROS POEMAS DA IMPACIÊNCIA
Silva Dunduro
I
Tatuagens de lua
no corpo quente
da mãe-terra
e assim nua nua
no leito vermelho
virginal ainda
ela espera a semente
que tarda a chegar
que tarda a chegar
II
Que venham
mas não de braços cruzados
aqui amigos
o sexo vermelho da terra
lateja de febre e de cio
é preciso saciá-la
e depressa
que venham
sim que venham
mas repito não de braços cruzados
aqui amigos
aqui
a terra fenece
na fome de arados
que tardam a chegar
que tardam a chegar
ah! que tardam tanto a chegar.
Rui Nogar
I
Tatuagens de lua
no corpo quente
da mãe-terra
e assim nua nua
no leito vermelho
virginal ainda
ela espera a semente
que tarda a chegar
que tarda a chegar
II
Que venham
mas não de braços cruzados
aqui amigos
o sexo vermelho da terra
lateja de febre e de cio
é preciso saciá-la
e depressa
que venham
sim que venham
mas repito não de braços cruzados
aqui amigos
aqui
a terra fenece
na fome de arados
que tardam a chegar
que tardam a chegar
ah! que tardam tanto a chegar.
Rui Nogar
terça-feira, 11 de março de 2008
Carta
Retirado do Boletim nº 22 “Outras Vozes” do WLSA Moçambique de Fevereiro de 2008
Recortes de Imprensa - 1
Numa carta aberta, publicada no semanário Zambeze a 6 de Dezembro, um grupo de mulheres insurge se contra a nomeação como Vice-Ministro da Mulher e de Assuntos Sociais de um homem que é misógino e intolerante.
João Cândido Candiane, que escreve crónicas semanais no jornal Domingo, a coberto de um pseudónimo, foi nomeado recentemente pelo Presidente da República. A carta aberta analisa o conteúdo dessas crónicas e expressa indignação por um homem com essas convicções ser nomeado Vice-Ministro de um país democrático.
Senhora Ministra, esse Vice Ministro não...
(Carta Aberta à Ministra da Mulher)
Senhora Ministra
Virgília Matabele
Nós somos mulheres, dirigimo-nos a si, que é mulher, que partilha da nossa sensibilidade e porque tem assumido de forma corajosa a defesa dos nossos interesses.
O assunto é o seguinte: nós não podemos aceitar a nomeação do Sr. João Cândido Candiane para o lugar de Vice-Ministro da Mulher e Assuntos Sociais. Não foi a Sr. Ministra que o nomeou. Mas é a senhora que queremos que escute este nosso protesto e faça a defesa do nosso bom nome, conduzindo esta nossa indignação onde ela possa produzir mudanças. Estamos cansadas de sermos consideradas únicas e exclusivas culpadas pelos males que assolam a moral do mundo. E, como verá, para o seu braço direito, o Senhor João Cândido, nós, mulheres, somos, desde a criação do Mundo, o motivo da degradação dos valores morais.
Há muito que acompanhamos o pensamento do Sr. Cândido Candiane, expresso semanalmente no Jornal Domingo sob a forma do pseudónimo Kandiyane wa Matuva Kandiya. A sua rubrica "Assombrações" tem-nos assombrado por causa das agressões contínuas que este senhor pratica contra a mulher moçambicana e contra a dignidade da mulher, em geral. Foi para nós um motivo de real assombro a designação de João Cândido (aliás, Kandiyane wa Matuva) exactamente para o lugar de Vice Ministro da Mulher. Na realidade, este senhor não apenas expressou ofensas graves contra a Mulher mas agrediu a filosofia e o espírito de tolerância que norteia o governo moçambicano, dirigido pelo Partido Frelimo.
Mostraremos, mais adiante, que não se trata de má-vontade ou preconceito nosso, pois nem sequer conhecemos pessoalmente o referido cidadão. O preconceito, má-vontade e intolerância moram, sim, no Sr. João Cândido.
Exma Ministra
Passemos aos factos que fazem prova do pensamento e da palavra do Sr. Cândido:
1- Ofensas contra a Mulher Moçambicana.
A ideia expressa em vários textos de João Cândido é que a degradação moral que a sociedade moçambicana atravessa é originada pela Mulher. Por exemplo, num texto publicado no Jornal Domingo, edição de Julho de 2007, o Cândido, aliás Kandiya, escrevia textualmente o seguinte: “... Continuo a perguntar-me - porque será que são sempre as mulheres que começam com desvios?" Nesse mesmo texto, apenas aponta o dedo acusador a artistas femininas, como se os artistas masculinos revelassem um comportamento acima de qualquer repreensão. Parece um lapso. Não é. Essa é a forma discriminadora e ofensiva com que ele pensa. Pois esta é a forma com que ele termina o referido artigo: “Ontem foi Eva que forçou Adão a comer coisas proibidas. Hoje continuam a ser as mesmas a aplaudir a errosão (está assim, com dois erres, no original) da nossa identidade como cidadãos do mundo racional! Deus nos acuda!..." Em qualquer país do mundo, este tipo de proclamação provocaria uma onda de indignação generalizada e tornaria inconcebível que este mesmo indivíduo viesse a ser designado para Vice Ministro da Mulher.
2- Usando de violência verbal extrema atacou a comunidade homossexual nos seguintes termos: “...somos forçados a concordar com as leis de certos países extremistas como Arábia Saudita, Yémen, Irão, Chechénia, Mauritânia, Sudão, Afeganistão, Paquistão, etc. onde os praticantes deste acto, caçados como ratos e punidos com a pena capital - decapitação! sejam tidos por doentes ou pervertidos" (Ver Jornal Domingo, de 30 de Julho de 2006). Sem comentários!
Uma verdadeira pérola de um democrata, respeitador dos direitos dos humanos...
3- Um outro lapso. Não, porque o Kandiyane não quer que o seu juízo fique em meias tintas. Respeitando o seu historial de ex-seminarista, o cronista agora promovido a Vice-Ministro fez uso do Levítico para relembrar as tão tolerantes sentenças: "Se um homem coabitar sexualmente com um varão cometeram , ambos um acto abominável; serão os dois punidos com a morte; o seu sangue cairá sobre eles.” Lev.20: 13. Vale a pena perguntar: e se forem mulheres, caro Kandiyane?
4- Atacou o jornalista Machado da Graça apelidando-o de "moçambicano não genuíno", sugerindo a categorização dos moçambicanos em função de critérios de "genuinidade" fundamentados na raça, origem e cor da pele.
5- Na mesma secção do Jornal Domingo, atacou a memória de Carlos Cardoso e ofendeu todos os que homenageavam a sua morte ao insurgir-se publicamente contra a deposição de coroas de flores (questionando, imagine-se, o dinheiro que se gastava com as flores...). Não satisfeito com ofender os vivos, interferiu abusivamente no respeito devido aos mortos, estranhamente aflito pelo carinho dispensado a um dos mais nobres cidadãos da nossa pátria.
6- Faz uso frequente de linguagem menos própria, muito pouco de acordo com os padrões culturais moçambicanos. Por exemplo, a 8 de Julho de 2007: “A maioria dos nossos juízes de hoje são autênticos advogados do Diabo, acocorados e defecando sobre os seus próprios umbigos." Aliás, o tema das fezes parece ser uma referência estranhamente frequente nos textos de João Cândido. Veja-se como, a 11 de Novembro deste ano, descreve o seu próprio estado depois de ter sido vítima de assalto: "além de ter ficado com as cuecas completamente borradas de excrementos que se libertaram indisciplinadamente sem seguir aquele cerimonial todo gente faz num lugar solitário…" A mesma insistência em versar o tema de imundície persegue as suas crónicas. De novo, a 14 de Outubro do corrente ano brinda-nos com a seguinte prosa "...uma manápula afagou-me as nádegas, tal como um namorado faria a uma sua namorada e untou-me a cara, boca, nariz, olhos e orelhas de fezes fedorentíssimas pior que o enxofre que alimenta o fogo do inferno".
7- A forma como argumenta com os seus opositores políticos demonstra que o senhor Cândido ainda vive no tempo que antecedeu o acordo de Roma. Em lugar de ideias, ele esgrime insultos. Aliás, ele próprio confessa com a sua escatológica linguagem que se guia por um "... velho ditado que aprendeu com seu avô que, segundo ele mesmo escreveu: o peido com peido se paga." (Assim mesmo, caros leitores, assim mesmo, sem tirar nem pôr, como se ele estivesse na taverna ou na taberna). A forma beligerante com que responde à oposição não condiz com os ensinamentos que recebemos da FRELIMO graças à qual o processo de reconciliação vingou. Estivesse o nosso destino nas mãos do Sr. Cândido, o espírito de animosidade regressaria ao nosso país. Somos mulheres, sofremos com as guerras, não nos revemos nesse raspar de feridas do passado.
Exma Senhora Ministra
É verdade que o Ministério da Mulher é também o Ministério para os Assuntos Sociais. Mas o Sr. Cândido não atacou apenas a Mulher.
Recortes de Imprensa - 1
Numa carta aberta, publicada no semanário Zambeze a 6 de Dezembro, um grupo de mulheres insurge se contra a nomeação como Vice-Ministro da Mulher e de Assuntos Sociais de um homem que é misógino e intolerante.
João Cândido Candiane, que escreve crónicas semanais no jornal Domingo, a coberto de um pseudónimo, foi nomeado recentemente pelo Presidente da República. A carta aberta analisa o conteúdo dessas crónicas e expressa indignação por um homem com essas convicções ser nomeado Vice-Ministro de um país democrático.
Senhora Ministra, esse Vice Ministro não...
(Carta Aberta à Ministra da Mulher)
Senhora Ministra
Virgília Matabele
Nós somos mulheres, dirigimo-nos a si, que é mulher, que partilha da nossa sensibilidade e porque tem assumido de forma corajosa a defesa dos nossos interesses.
O assunto é o seguinte: nós não podemos aceitar a nomeação do Sr. João Cândido Candiane para o lugar de Vice-Ministro da Mulher e Assuntos Sociais. Não foi a Sr. Ministra que o nomeou. Mas é a senhora que queremos que escute este nosso protesto e faça a defesa do nosso bom nome, conduzindo esta nossa indignação onde ela possa produzir mudanças. Estamos cansadas de sermos consideradas únicas e exclusivas culpadas pelos males que assolam a moral do mundo. E, como verá, para o seu braço direito, o Senhor João Cândido, nós, mulheres, somos, desde a criação do Mundo, o motivo da degradação dos valores morais.
Há muito que acompanhamos o pensamento do Sr. Cândido Candiane, expresso semanalmente no Jornal Domingo sob a forma do pseudónimo Kandiyane wa Matuva Kandiya. A sua rubrica "Assombrações" tem-nos assombrado por causa das agressões contínuas que este senhor pratica contra a mulher moçambicana e contra a dignidade da mulher, em geral. Foi para nós um motivo de real assombro a designação de João Cândido (aliás, Kandiyane wa Matuva) exactamente para o lugar de Vice Ministro da Mulher. Na realidade, este senhor não apenas expressou ofensas graves contra a Mulher mas agrediu a filosofia e o espírito de tolerância que norteia o governo moçambicano, dirigido pelo Partido Frelimo.
Mostraremos, mais adiante, que não se trata de má-vontade ou preconceito nosso, pois nem sequer conhecemos pessoalmente o referido cidadão. O preconceito, má-vontade e intolerância moram, sim, no Sr. João Cândido.
Exma Ministra
Passemos aos factos que fazem prova do pensamento e da palavra do Sr. Cândido:
1- Ofensas contra a Mulher Moçambicana.
A ideia expressa em vários textos de João Cândido é que a degradação moral que a sociedade moçambicana atravessa é originada pela Mulher. Por exemplo, num texto publicado no Jornal Domingo, edição de Julho de 2007, o Cândido, aliás Kandiya, escrevia textualmente o seguinte: “... Continuo a perguntar-me - porque será que são sempre as mulheres que começam com desvios?" Nesse mesmo texto, apenas aponta o dedo acusador a artistas femininas, como se os artistas masculinos revelassem um comportamento acima de qualquer repreensão. Parece um lapso. Não é. Essa é a forma discriminadora e ofensiva com que ele pensa. Pois esta é a forma com que ele termina o referido artigo: “Ontem foi Eva que forçou Adão a comer coisas proibidas. Hoje continuam a ser as mesmas a aplaudir a errosão (está assim, com dois erres, no original) da nossa identidade como cidadãos do mundo racional! Deus nos acuda!..." Em qualquer país do mundo, este tipo de proclamação provocaria uma onda de indignação generalizada e tornaria inconcebível que este mesmo indivíduo viesse a ser designado para Vice Ministro da Mulher.
2- Usando de violência verbal extrema atacou a comunidade homossexual nos seguintes termos: “...somos forçados a concordar com as leis de certos países extremistas como Arábia Saudita, Yémen, Irão, Chechénia, Mauritânia, Sudão, Afeganistão, Paquistão, etc. onde os praticantes deste acto, caçados como ratos e punidos com a pena capital - decapitação! sejam tidos por doentes ou pervertidos" (Ver Jornal Domingo, de 30 de Julho de 2006). Sem comentários!
Uma verdadeira pérola de um democrata, respeitador dos direitos dos humanos...
3- Um outro lapso. Não, porque o Kandiyane não quer que o seu juízo fique em meias tintas. Respeitando o seu historial de ex-seminarista, o cronista agora promovido a Vice-Ministro fez uso do Levítico para relembrar as tão tolerantes sentenças: "Se um homem coabitar sexualmente com um varão cometeram , ambos um acto abominável; serão os dois punidos com a morte; o seu sangue cairá sobre eles.” Lev.20: 13. Vale a pena perguntar: e se forem mulheres, caro Kandiyane?
4- Atacou o jornalista Machado da Graça apelidando-o de "moçambicano não genuíno", sugerindo a categorização dos moçambicanos em função de critérios de "genuinidade" fundamentados na raça, origem e cor da pele.
5- Na mesma secção do Jornal Domingo, atacou a memória de Carlos Cardoso e ofendeu todos os que homenageavam a sua morte ao insurgir-se publicamente contra a deposição de coroas de flores (questionando, imagine-se, o dinheiro que se gastava com as flores...). Não satisfeito com ofender os vivos, interferiu abusivamente no respeito devido aos mortos, estranhamente aflito pelo carinho dispensado a um dos mais nobres cidadãos da nossa pátria.
6- Faz uso frequente de linguagem menos própria, muito pouco de acordo com os padrões culturais moçambicanos. Por exemplo, a 8 de Julho de 2007: “A maioria dos nossos juízes de hoje são autênticos advogados do Diabo, acocorados e defecando sobre os seus próprios umbigos." Aliás, o tema das fezes parece ser uma referência estranhamente frequente nos textos de João Cândido. Veja-se como, a 11 de Novembro deste ano, descreve o seu próprio estado depois de ter sido vítima de assalto: "além de ter ficado com as cuecas completamente borradas de excrementos que se libertaram indisciplinadamente sem seguir aquele cerimonial todo gente faz num lugar solitário…" A mesma insistência em versar o tema de imundície persegue as suas crónicas. De novo, a 14 de Outubro do corrente ano brinda-nos com a seguinte prosa "...uma manápula afagou-me as nádegas, tal como um namorado faria a uma sua namorada e untou-me a cara, boca, nariz, olhos e orelhas de fezes fedorentíssimas pior que o enxofre que alimenta o fogo do inferno".
7- A forma como argumenta com os seus opositores políticos demonstra que o senhor Cândido ainda vive no tempo que antecedeu o acordo de Roma. Em lugar de ideias, ele esgrime insultos. Aliás, ele próprio confessa com a sua escatológica linguagem que se guia por um "... velho ditado que aprendeu com seu avô que, segundo ele mesmo escreveu: o peido com peido se paga." (Assim mesmo, caros leitores, assim mesmo, sem tirar nem pôr, como se ele estivesse na taverna ou na taberna). A forma beligerante com que responde à oposição não condiz com os ensinamentos que recebemos da FRELIMO graças à qual o processo de reconciliação vingou. Estivesse o nosso destino nas mãos do Sr. Cândido, o espírito de animosidade regressaria ao nosso país. Somos mulheres, sofremos com as guerras, não nos revemos nesse raspar de feridas do passado.
Exma Senhora Ministra
É verdade que o Ministério da Mulher é também o Ministério para os Assuntos Sociais. Mas o Sr. Cândido não atacou apenas a Mulher.
Ele revelou uma atitude inaceitável em temas que são eminentemente sociais.
A sexualidade e o direito à diferença, a diversidade racial dos moçambicanos e o direito pleno de serem cidadãos por inteiro, o direito à pluralidade partidária, a correcção de temas e decoro da linguagem, tudo isso são assuntos de cariz social.
É verdadeiramente espantoso que um cidadão possa publicar coisas destas. O cariz destes artigos está em contradição com a linha editorial de um jornal de renome como é o Domingo. Felizmente, estamos em democracia e num regime aberto, moderno e tolerante. Felizmente, quem manda não são os Kandiyanes. Mas é verdadeiramente espantoso que se publiquem barbaridades destas e se seja promovido desta forma para postos de responsabilidade. Certamente, Sua Excelência, o Presidente da República, desconhecia estes dados quando procedeu à nomeação. O Presidente é, na realidade, o espelho da ideologia moderna, humana e progressista de uma governação que tantos motivos nos dão de orgulho por vivermos numa pátria virada para o futuro.
Mas para nós, manter tudo como está, fazendo de conta que nunca ninguém disse nada, poderá ser um sinal da permanência do tal espírito de "deixa andar" que todos queremos combater. Somos um pequeno grupo de mulheres moçambicanas e representamos apenas um ponto de vista. Mas esse ponto de vista, estamos certos, traduz a mágoa de centenas de milhares de mulheres que não gostariam de continuar a ser olhadas como “Evas pecaminosas à espera de corromper o Homem”.
Senhora Ministra, um homem destes não pode estar à frente do Ministério da Mulher, não pode sequer fazer parte do nosso governo. Quem diz isto somos nós,
Um grupo de moçambicanas genuinamente mulheres
Comentário:
Organizações de luta pelos direitos humanos estão a reunir evidências destas e de outras posturas que violam os princípios de respeito pela igualdade de género e pela diferença, garantidos pela legislação nacional, de modo a fundamentar uma petição oficial dirigida a quem de direito para a destituição imediata do Sr. João Cândido do seu posto de Vice-Ministro da Mulher e da Acção Social.
Entretanto, consequente consigo próprio, o Sr. Vice-Ministro continua a disseminar as suas ideias preconceituosas e ofensivas até em Fóruns internacionais.
É verdadeiramente espantoso que um cidadão possa publicar coisas destas. O cariz destes artigos está em contradição com a linha editorial de um jornal de renome como é o Domingo. Felizmente, estamos em democracia e num regime aberto, moderno e tolerante. Felizmente, quem manda não são os Kandiyanes. Mas é verdadeiramente espantoso que se publiquem barbaridades destas e se seja promovido desta forma para postos de responsabilidade. Certamente, Sua Excelência, o Presidente da República, desconhecia estes dados quando procedeu à nomeação. O Presidente é, na realidade, o espelho da ideologia moderna, humana e progressista de uma governação que tantos motivos nos dão de orgulho por vivermos numa pátria virada para o futuro.
Mas para nós, manter tudo como está, fazendo de conta que nunca ninguém disse nada, poderá ser um sinal da permanência do tal espírito de "deixa andar" que todos queremos combater. Somos um pequeno grupo de mulheres moçambicanas e representamos apenas um ponto de vista. Mas esse ponto de vista, estamos certos, traduz a mágoa de centenas de milhares de mulheres que não gostariam de continuar a ser olhadas como “Evas pecaminosas à espera de corromper o Homem”.
Senhora Ministra, um homem destes não pode estar à frente do Ministério da Mulher, não pode sequer fazer parte do nosso governo. Quem diz isto somos nós,
Um grupo de moçambicanas genuinamente mulheres
Comentário:
Organizações de luta pelos direitos humanos estão a reunir evidências destas e de outras posturas que violam os princípios de respeito pela igualdade de género e pela diferença, garantidos pela legislação nacional, de modo a fundamentar uma petição oficial dirigida a quem de direito para a destituição imediata do Sr. João Cândido do seu posto de Vice-Ministro da Mulher e da Acção Social.
Entretanto, consequente consigo próprio, o Sr. Vice-Ministro continua a disseminar as suas ideias preconceituosas e ofensivas até em Fóruns internacionais.
Tal foi o que aconteceu na Conferência Sub-Regional sobre Trabalhadoras de Sexo e HIV/SIDA, que teve lugar em Maputo, de 31 de Outubro a 2 de Novembro de 2007.
Na sessão de encerramento, a 2 de Novembro, durante a sua alocução, ele afirmou que a sua esposa gostava muito das trabalhadoras de sexo. E então porquê? Porque, contou ele, assim incomodava-a menos, querendo com isso dizer que satisfazia as suas necessidades sexuais fora de casa e por isso a sua esposa não era obrigada a ter sexo com ele.
Neste simples enunciado ficam patentes muitas coisas, todas elas pressupondo uma grande falta de respeito pela sua própria esposa e pelas mulheres em geral. E a vergonha das vergonhas, para quem é da terra e gosta de ver o seu país destacar-se internacionalmente pelo que tem de melhor, foi que o discurso ofensivo e reaccionário do Sr. Vice-Ministro estava a ser simultaneamente traduzido para o inglês.
Recortes de Imprensa - 2
No passado dia 21 de Janeiro de 2008, na edição número 2743 do jornal electrónico Correio da Manhã, foi publicado um artigo sobre a violência doméstica, tendo como fonte o Gabinete de Atendimento da Mulher e Criança do Ministério do Interior, onde se falava também de violações de menores do sexo masculino, lamentando-se que a legislação moçambicana não proiba "a prática de pedofilia e homossexualismo". Reagindo a este pronunciamento, um grupo de organizações de defesa dos direitos humanos reagiu por meio de um comunicado.
Homossexualidade, Pedofilia... Nada de confusão!
No passado dia 21 de Janeiro de 2008, na edição número 2743 do jornal electrónico Correio da Manhã, foi publicado um artigo sobre a violência doméstica tendo como fonte o Gabinete de Atendimento da Mulher e Criança do Ministério do Interior e assinado pelo jornalista J. Ubisse.
No referido artigo conclui-se que o MINT tem dificuldades em penalizar os violadores de menores do sexo masculino “pelo facto da legislação moçambicana não fazer nenhuma referência específica à proibição da prática de pedofilia e homossexualismo”.
Recortes de Imprensa - 2
No passado dia 21 de Janeiro de 2008, na edição número 2743 do jornal electrónico Correio da Manhã, foi publicado um artigo sobre a violência doméstica, tendo como fonte o Gabinete de Atendimento da Mulher e Criança do Ministério do Interior, onde se falava também de violações de menores do sexo masculino, lamentando-se que a legislação moçambicana não proiba "a prática de pedofilia e homossexualismo". Reagindo a este pronunciamento, um grupo de organizações de defesa dos direitos humanos reagiu por meio de um comunicado.
Homossexualidade, Pedofilia... Nada de confusão!
No passado dia 21 de Janeiro de 2008, na edição número 2743 do jornal electrónico Correio da Manhã, foi publicado um artigo sobre a violência doméstica tendo como fonte o Gabinete de Atendimento da Mulher e Criança do Ministério do Interior e assinado pelo jornalista J. Ubisse.
No referido artigo conclui-se que o MINT tem dificuldades em penalizar os violadores de menores do sexo masculino “pelo facto da legislação moçambicana não fazer nenhuma referência específica à proibição da prática de pedofilia e homossexualismo”.
Este pronunciamento, pelo que tem de ignorância e de preconceitos, choca-nos bastante e merece que nos debrucemos sobre ele.
Somos organizações da sociedade civil de luta pelos direitos humanos e consideramos a pedofilia um crime hediondo que deve ser punido exemplarmente, pois viola todos os princípios do livre exercício da sexualidade que é baseada no consentimento mútuo, sendo praticado contra aqueles sobre quem todos os adultos têm o dever de protecção, as crianças. Contra este crime, temos reiteradamente escrito a denunciar a impunidade do abuso sexual das meninas na escola.
No entanto, o que achamos abusiva é a associação entre pedofilia e homossexualidade.
Somos organizações da sociedade civil de luta pelos direitos humanos e consideramos a pedofilia um crime hediondo que deve ser punido exemplarmente, pois viola todos os princípios do livre exercício da sexualidade que é baseada no consentimento mútuo, sendo praticado contra aqueles sobre quem todos os adultos têm o dever de protecção, as crianças. Contra este crime, temos reiteradamente escrito a denunciar a impunidade do abuso sexual das meninas na escola.
No entanto, o que achamos abusiva é a associação entre pedofilia e homossexualidade.
Enquanto que no primeiro caso temos um crime de violação contra um menor (que pode ou não ser do sexo masculino), no segundo caso está-se a falar da orientação sexual.
Ora, pesem embora os preconceitos que existem na sociedade e que contribuem para discriminar um grupo minoritário de cidadãos, estamos num país que respeita os direitos de todas e todos, independentemente das suas diferenças.
Ao juntar a pedofilia à homossexualidade está-se a consagrar expressões como: "práticas homossexuais pedófilas" ou "violações homossexuais" quando as crianças envolvidas são do sexo masculino, por oposição a "abuso sexual" quando se trata de crianças do sexo feminino.
Ao juntar a pedofilia à homossexualidade está-se a consagrar expressões como: "práticas homossexuais pedófilas" ou "violações homossexuais" quando as crianças envolvidas são do sexo masculino, por oposição a "abuso sexual" quando se trata de crianças do sexo feminino.
Esta disparidade é grave por duas razões fundamentais:
· Em primeiro lugar, porque ao reflectir e perpetuar a ignorância e o preconceito em relação à homossexualidade, está-se também a promover o ódio e a violência homofóbica; independentemente das crenças e preconceitos do jornalista que escreve, esta incitação é condenável pela Constituição nacional e pelo código que rege a comunicação social.
· Em segundo lugar, porque o combate à pedofilia exige uma informação que, em vez de alimentar preconceitos, seja, pelo contrário, de uma clareza absoluta na explicitação dos motivos pelos quais essa prática é criminosa. Esta clareza exige que se refira que a maioria das violações sexuais contra menores, é praticada por homens heterossexuais a crianças do sexo feminino. No entanto, muito embora assim suceda, nenhum comentador alude a "práticas heterossexuais com menores" - uma vez que o que é realmente significativo é o abuso sexual de menores e não a orientação sexual de quem o comete - nem caracterizar a orientação sexual heterossexual pela prática daquele crime. Igualmente seria por todos condenada qualquer referência à raça ou etnia do criminoso, por tal ser encarado como uma forma explícita de racismo. É por isso que, na luta contra a pedofilia, que exige a criação de condições propícias à sua identificação e denúncia, se torna fundamental sublinhar bem a natureza deste crime e deixar absolutamente claro que ele é independente de qualquer orientação sexual.
Como organizações de luta pelos direitos humanos, gostaríamos de mais uma vez exigir que o combate contra o abuso sexual de menores, crime de natureza pública, seja eficaz, para permitir que as nossas crianças cresçam livres e se sintam seguras na família, na escola e nos lugares públicos.
Terminamos apelando para que os meios de Comunicação Social lutem contra a ignorância e contribuam para derrubar preconceitos, para que a nossa sociedade seja cada vez mais livre e tolerante.
Pelo combate ao abuso sexual de menores!
Pelo livre exercício dos direitos sexuais e reprodutivos!
Assinam: LAMBDA – Associação Moçambicana para a Defesa das Minorias Sexuais (em formação), WLSA Moçambique - Women and Law in Southern Africa, LDH – Liga Moçambicana dos Direitos Humanos, REDE CAME – Rede de Organizações de Luta pelos Direitos das Crianças, MULEIDE – Mulher, Lei e Desenvolvimento
· Em primeiro lugar, porque ao reflectir e perpetuar a ignorância e o preconceito em relação à homossexualidade, está-se também a promover o ódio e a violência homofóbica; independentemente das crenças e preconceitos do jornalista que escreve, esta incitação é condenável pela Constituição nacional e pelo código que rege a comunicação social.
· Em segundo lugar, porque o combate à pedofilia exige uma informação que, em vez de alimentar preconceitos, seja, pelo contrário, de uma clareza absoluta na explicitação dos motivos pelos quais essa prática é criminosa. Esta clareza exige que se refira que a maioria das violações sexuais contra menores, é praticada por homens heterossexuais a crianças do sexo feminino. No entanto, muito embora assim suceda, nenhum comentador alude a "práticas heterossexuais com menores" - uma vez que o que é realmente significativo é o abuso sexual de menores e não a orientação sexual de quem o comete - nem caracterizar a orientação sexual heterossexual pela prática daquele crime. Igualmente seria por todos condenada qualquer referência à raça ou etnia do criminoso, por tal ser encarado como uma forma explícita de racismo. É por isso que, na luta contra a pedofilia, que exige a criação de condições propícias à sua identificação e denúncia, se torna fundamental sublinhar bem a natureza deste crime e deixar absolutamente claro que ele é independente de qualquer orientação sexual.
Como organizações de luta pelos direitos humanos, gostaríamos de mais uma vez exigir que o combate contra o abuso sexual de menores, crime de natureza pública, seja eficaz, para permitir que as nossas crianças cresçam livres e se sintam seguras na família, na escola e nos lugares públicos.
Terminamos apelando para que os meios de Comunicação Social lutem contra a ignorância e contribuam para derrubar preconceitos, para que a nossa sociedade seja cada vez mais livre e tolerante.
Pelo combate ao abuso sexual de menores!
Pelo livre exercício dos direitos sexuais e reprodutivos!
Assinam: LAMBDA – Associação Moçambicana para a Defesa das Minorias Sexuais (em formação), WLSA Moçambique - Women and Law in Southern Africa, LDH – Liga Moçambicana dos Direitos Humanos, REDE CAME – Rede de Organizações de Luta pelos Direitos das Crianças, MULEIDE – Mulher, Lei e Desenvolvimento
segunda-feira, 10 de março de 2008
EXPULSOS, DESLOCADOS, DESTERRADOS
Migrações forçadas na América Latina e em países luso-africanos
Centro Stefano Franscini, Monte Verità (Ascona)
Situado na Suíça italiana, perto da cidade de Locarno e do Lago Maggiore, o Centro Stefano Franscini no Monte Verità, antigo refúgio de utopistas e democratas perseguidos, é um espaço idílico que oferece um excelente quadro para os debates deste simpósio.
http://www.csf.ethz.ch/
Centro Stefano Franscini, Monte Verità (Ascona)
Situado na Suíça italiana, perto da cidade de Locarno e do Lago Maggiore, o Centro Stefano Franscini no Monte Verità, antigo refúgio de utopistas e democratas perseguidos, é um espaço idílico que oferece um excelente quadro para os debates deste simpósio.
http://www.csf.ethz.ch/
27 de Abril - 2 de Maio
Projeto e programa;
Causado por situações de guerra ou de conflito armado, mas também pela implementação sem escrúpulos de grandes projectos de tipo extractivo, agrícola, industrial, hidráulico, infra-estrutural e urbanístico, o deslocamento em massa de populações vem provocando, em diversas áreas e localidades de África e da América Latina, situações extremamente graves em termos sociais, económicos, culturais e educativos.
Ao promover um debate interdisciplinar e inter-regional sobre os deslocamentos forçados e as suas causas e consequências, o simpósio que estamos organizando pretende contribuir para um melhor conhecimento deste preocupante fenómeno e intervir no debate – levado a cabo por organismos internacionais, nacionais e não governamentais – acerca das estratégias que é necessário desenvolver na luta contra os deslocamentos e em apoio das populações deslocadas ou reassentadas. Para se poder avançar nesta direcção, parece-nos imperativo dar especial atenção à experiência das próprias colectividades que foram envolvidas em – ou ameaçadas por – processos de expulsão, deslocamento ou reassentamento compulsivo. Interessar-nos-á especialmente, neste contexto, os movimentos colectivos de resistência contra a expulsão e desenraizamento, as estratégias de sobrevivência das populações dispersas e todas as práticas de reconstrução da vida comunitária – economia, organização social, educação, etc. – nos espaços de reassentamento ou de retorno.
As disciplinas representadas neste colóquio serão, entre outras, a história, a antropologia, a sociologia, o cinema, a fotografia e a literatura.
Causado por situações de guerra ou de conflito armado, mas também pela implementação sem escrúpulos de grandes projectos de tipo extractivo, agrícola, industrial, hidráulico, infra-estrutural e urbanístico, o deslocamento em massa de populações vem provocando, em diversas áreas e localidades de África e da América Latina, situações extremamente graves em termos sociais, económicos, culturais e educativos.
Ao promover um debate interdisciplinar e inter-regional sobre os deslocamentos forçados e as suas causas e consequências, o simpósio que estamos organizando pretende contribuir para um melhor conhecimento deste preocupante fenómeno e intervir no debate – levado a cabo por organismos internacionais, nacionais e não governamentais – acerca das estratégias que é necessário desenvolver na luta contra os deslocamentos e em apoio das populações deslocadas ou reassentadas. Para se poder avançar nesta direcção, parece-nos imperativo dar especial atenção à experiência das próprias colectividades que foram envolvidas em – ou ameaçadas por – processos de expulsão, deslocamento ou reassentamento compulsivo. Interessar-nos-á especialmente, neste contexto, os movimentos colectivos de resistência contra a expulsão e desenraizamento, as estratégias de sobrevivência das populações dispersas e todas as práticas de reconstrução da vida comunitária – economia, organização social, educação, etc. – nos espaços de reassentamento ou de retorno.
As disciplinas representadas neste colóquio serão, entre outras, a história, a antropologia, a sociologia, o cinema, a fotografia e a literatura.
Também se dará a palavra a representantes de organismos comprometidos com a luta contra os deslocamentos e com a ajuda a deslocados.
Estamos confiantes que o cotejo de experiências diversas e que o diálogo interdisciplinar e inter-regional nos permitirão chegar a resultados novos e significativos.
As línguas de trabalho são o espanhol e o português.
O simpósio conta já com a participação de uma quinzena de destacados especialistas que provêm, na sua maioria, da América Latina e da África.
Estamos confiantes que o cotejo de experiências diversas e que o diálogo interdisciplinar e inter-regional nos permitirão chegar a resultados novos e significativos.
As línguas de trabalho são o espanhol e o português.
O simpósio conta já com a participação de uma quinzena de destacados especialistas que provêm, na sua maioria, da América Latina e da África.
Conferencistas confirmados:
Prof. Jesús Morales Bermúdez, antropólogo e escritor, reitor da Universidad de Ciencias y Artes de Chiapas (UNICACH), Tuxtla Gutiérrez, México
Juan Tomás Ávila Laurel, escritor, Guinea Ecuatorial
Dr. João Paulo Constantino Borges Coelho, historiador e escritor, Universidade Eduardo Mondlane, Maputo, Moçambique
Prof. José Carlos Sebe Bom Meihy, historiador oral, Universidade de São Paulo, Brasil
Andrés Cabanas, jornalista de investigação, Memorial de Guatemala, Ciudad de Guatemala
Prof. Hugo Carrasco, estudioso antropológico-literário, Universidad de la Frontera, Temuco, Chile
Prof. Fernán E. González, historiador, CINEP, Bogotá, Colômbia
Carlos Rosero, Grupo de derechos humanos – Proceso de comunidades negras en Colombia (PCN), Colômbia
Prof. Ricardo Valderrama, antropólogo, Universidad San Antonio Abad, Cusco, Perú
Prof. Julio Ramos, Cultural studies, University of California, Berkeley, USA
Prof. Aline Helg, historiadora, Université de Genève, Suisse
César Pastor, UNHCR (The UN Refugees Agency), Genève, Suisse
Sérgio Santimano, fotógrafo, Maputo, Moçambique / Uppsala, Sverige
Juan Lozano, cineasta, Genève / Colômbia
Prof. Jesús Morales Bermúdez, antropólogo e escritor, reitor da Universidad de Ciencias y Artes de Chiapas (UNICACH), Tuxtla Gutiérrez, México
Juan Tomás Ávila Laurel, escritor, Guinea Ecuatorial
Dr. João Paulo Constantino Borges Coelho, historiador e escritor, Universidade Eduardo Mondlane, Maputo, Moçambique
Prof. José Carlos Sebe Bom Meihy, historiador oral, Universidade de São Paulo, Brasil
Andrés Cabanas, jornalista de investigação, Memorial de Guatemala, Ciudad de Guatemala
Prof. Hugo Carrasco, estudioso antropológico-literário, Universidad de la Frontera, Temuco, Chile
Prof. Fernán E. González, historiador, CINEP, Bogotá, Colômbia
Carlos Rosero, Grupo de derechos humanos – Proceso de comunidades negras en Colombia (PCN), Colômbia
Prof. Ricardo Valderrama, antropólogo, Universidad San Antonio Abad, Cusco, Perú
Prof. Julio Ramos, Cultural studies, University of California, Berkeley, USA
Prof. Aline Helg, historiadora, Université de Genève, Suisse
César Pastor, UNHCR (The UN Refugees Agency), Genève, Suisse
Sérgio Santimano, fotógrafo, Maputo, Moçambique / Uppsala, Sverige
Juan Lozano, cineasta, Genève / Colômbia
Jean-Pierre Bastian, historiador de religiões, Université de Strassbourg
Antonio Melis, estudos Università di Siena
Obrigado á Marília Mendes uma das organizadoras do envento.
mendes@rom.unizh.ch
Obrigado á Marília Mendes uma das organizadoras do envento.
mendes@rom.unizh.ch
Destruições na Ilha de Moçambique
Foto Sérgio Santimano, hospital - Ilha de mocambique 2003
Tempestade muito violenta na Ilha - que tendo amainado um pouco ainda não terminou. Chegam-me, por via daqueles que ainda têm carga nos telemóveis, relatos - avultadas destruições nos bairros de macuti e também na pedra-e-cal.
Tempestade muito violenta na Ilha - que tendo amainado um pouco ainda não terminou. Chegam-me, por via daqueles que ainda têm carga nos telemóveis, relatos - avultadas destruições nos bairros de macuti e também na pedra-e-cal.
Barcos de pesca afundados, casas destruídas, árvores derrubadas e, fundamentalmente, muitas casas sem telhados.
A Ilha sem electricidade e, muito provavelmente (ainda não mo confirmaram), sem água.
“A Ilha a sofrer”, dizem-me do Lumbo, também basto batido.
Amigos com prejuízos, ainda que felizmente sem notícias de desastres pessoais.
Amigos com prejuízos, ainda que felizmente sem notícias de desastres pessoais.
Amigos e colaboradores olhando as casas descobertas, esses tectos de zinco que tanto investimento familiar implicam.
Coisa que parecerá pouco na grande escala económica, mas que tanto implica nos parcos orçamentos familiares.
Que fazer?
A mobilizar ajuda.
8 de Março de 2008 Ilha de Moçambique
quarta-feira, 5 de março de 2008
Longa vida, querido Madiba!
Os festejos do 90º aniversário de Nelson Mandela, a comemorar no dia 18 de Julho, já começaram e prosseguirão todo este ano, anunciou hoje a Fundação Nelson Mandela.
O nosso obrigado ao Carlos Serra e ao seu blog; http://oficinadesociologia.blogspot.com/
O nosso obrigado ao Carlos Serra e ao seu blog; http://oficinadesociologia.blogspot.com/
terça-feira, 4 de março de 2008
Congresso dos Escritores em Estocolmo
Mia Couto, Zimbábuè e Mugabe
"Um regime de ditadura comandado por Robert Mugabe (na foto), não pode, nem deve realizar eleições.
A situação naquele País está bastante complicada… Robert Mugabe, sempre apontou o dedo acusador a Tony Blair mas Blair já se retirou do cargo de Primeiro-ministro, no entanto a crise continua naquele País.
Como é que Mugabe explica isto?"
segunda-feira, 3 de março de 2008
"Nada está bem e o país vai mal"
Dr. Fernando Vaz
"(...) só quem não olha muito profundamente para os problemas do povo é que pode ter fé que isto está bem. Nada disso.
Na verdade, nada está bem e o país vai mal.
Se pretendermos explicar a génese do problema, veremos que não há um factor só para este tipo de manifestações. (...) Penso que os sociólogos já disseram tudo e avançaram com algumas ideais. Não há outra hipótese se não o Governo olhar para as condições sociais das pessoas.
Tem que se criar políticas sociais e para isso os governantes devem ter criatividade.
Isto não é tarefa fácil e que se resolve do dia para a noite, com o pagamento de gasolina aos “chapas”. As manifestações são produto de um movimento expontâneo e não orquestrado. As pessoas reclamam porque não têm e nunca sabem quando as terão.
domingo, 2 de março de 2008
Chega a noite
A noite é o medo, o risco do assalto, o perigo da emboscada, a possibilidade do roubo ou da morte, o espectro das possibilidades doentias.
Há nos bairros como que uma doença, uma doença social prolongada, formada por sucessivos problemas encavalitados uns nos outros, com coeficientes diferentes, mas todos confluindo para uma mesma situação de mal-estar profundo.
Já não basta viver com dificuldades de sobrevivência: mesmo essas dificuldades são motivo de assalto, de pilhagem.
A espoliação, física e moral, espreita cada cidadão.
A doença social indiferencia toda a gente, qualquer pessoa está à mercê da doença, reina um profundo eclipse cultural.
A suspeita está em cada ponto, em cada poro.
Existe como que a consciência ao mesmo tempo súbita e perene da perda do social, das regras, da moral, o mesmo está em todo o lado e o mesmo é o crime, o medo, a insegurança, a ausência de futuro.
Cada morador sente que existe uma poluição social, poluição contra a qual não há defesa pois o vazio institucional é evidente, o futuro inexiste, o presente é o desenrasca, a polícia não protege, o Estado está nas ruas iluminadas, lá longe, no bem-estar.
Uma noite alguém surpreende uma tentativa de roubo.
Ou alguém vê passar outro alguém cujos sinais exteriores lhe parecem suspeitos. Esse alguém está casado com a noite. Se a noite é suspeita, ele também é suspeito.
É ninja e pronto.
Não importa se é realmente meliante conhecido.
O que importa é que ele é suspeito.
E se é suspeito, logo é culpado.
O suspeito é tão misterioso e estrangeiro quanto a noite.
E surge um grito súbito: Ladrão!!!!!
Linchamentos, eclipse do social e bodes expiatórios.
In ;http://oficinadesociologia.blogspot.com/
Há nos bairros como que uma doença, uma doença social prolongada, formada por sucessivos problemas encavalitados uns nos outros, com coeficientes diferentes, mas todos confluindo para uma mesma situação de mal-estar profundo.
Já não basta viver com dificuldades de sobrevivência: mesmo essas dificuldades são motivo de assalto, de pilhagem.
A espoliação, física e moral, espreita cada cidadão.
A doença social indiferencia toda a gente, qualquer pessoa está à mercê da doença, reina um profundo eclipse cultural.
A suspeita está em cada ponto, em cada poro.
Existe como que a consciência ao mesmo tempo súbita e perene da perda do social, das regras, da moral, o mesmo está em todo o lado e o mesmo é o crime, o medo, a insegurança, a ausência de futuro.
Cada morador sente que existe uma poluição social, poluição contra a qual não há defesa pois o vazio institucional é evidente, o futuro inexiste, o presente é o desenrasca, a polícia não protege, o Estado está nas ruas iluminadas, lá longe, no bem-estar.
Uma noite alguém surpreende uma tentativa de roubo.
Ou alguém vê passar outro alguém cujos sinais exteriores lhe parecem suspeitos. Esse alguém está casado com a noite. Se a noite é suspeita, ele também é suspeito.
É ninja e pronto.
Não importa se é realmente meliante conhecido.
O que importa é que ele é suspeito.
E se é suspeito, logo é culpado.
O suspeito é tão misterioso e estrangeiro quanto a noite.
E surge um grito súbito: Ladrão!!!!!
Linchamentos, eclipse do social e bodes expiatórios.
In ;http://oficinadesociologia.blogspot.com/
sábado, 1 de março de 2008
Temos de virar a revolta contra quem nos explora.
Na preparação do dossiê sobre imigração publicado no último Mudar de Vida (edição em papel, de Fevereiro) entrevistámos Timóteo Macedo, dirigente da Solidariedade Imigrante, associação que presta apoio aos imigrantes no nosso país (Portugal).
Diz o nosso entrevistado:
“São os patrões que já não querem empregar os portugueses, nem os imigrantes legais.
Querem a imigração indocumentada fragilizada, ilegal, para poderem praticar esse sistema dos negreiros e da escravatura moderna.
Os patrões seleccionam, de acordo com a lógica do lucro.
Os imigrantes não vêm roubar coisa nenhuma.
Há trabalho para todos.
Temos que virar essa revolta contra quem nos explora.
Contra quem não nos dá trabalho com dignidade, com direitos, com melhores salários.”
In; http://www.jornalmudardevida.net/
Diz o nosso entrevistado:
“São os patrões que já não querem empregar os portugueses, nem os imigrantes legais.
Querem a imigração indocumentada fragilizada, ilegal, para poderem praticar esse sistema dos negreiros e da escravatura moderna.
Os patrões seleccionam, de acordo com a lógica do lucro.
Os imigrantes não vêm roubar coisa nenhuma.
Há trabalho para todos.
Temos que virar essa revolta contra quem nos explora.
Contra quem não nos dá trabalho com dignidade, com direitos, com melhores salários.”
In; http://www.jornalmudardevida.net/