22 de Novembro 2000
.Segundo o "Observador" de hoje (n. 103) editado em Maputo e pelas palavras de Maria de Lourdes Torcato:
Carlos Cardoso era democrata convicto e uma pedra no sapato dos corruptos!
Muitos de nós lembramos com saudade Carlos Cardoso, o mártir da liberdade de imprensa em Moçambique, pelo seu extraordinário trabalho de jornalista investigativo, que ousou interferir na rede da corrupção e no crime organizado e por isso foi assassinado.
Poucos recordam a voz de Carlos Cardoso como Autarca e venho refrescar a nossa memória. O Cardoso juntou-se ao grupo de independentes “Juntos pela Cidade” que conquistou nas eleições de 1998 não mais que uma dúzia de lugares na Assembleia Municipal, mas lugares que fizeram a diferença.
Ele era um dos deputados e raramente faltava a uma sessão.
Com a frontalidade apaixonada que o caracterizava, zurzia nos oportunistas e nosindiferentes, na corrupção e na ilegalidade, clamava por transparência e honestidade.
E, o que foi extraordinário nesse tempo, é que o Cardoso incomodava, fazia muita gente torcer-se inquieta nas cadeiras da sala de sessões, mas criou mais admiradores que inimigos entre os seus pares–a maioria da FRELIMO inclusivamente.
O tema da legalidade era um dos mais caros para o Carlos Cardoso e gostava de interpelar o Presidente da Assembleia na altura, o jurista Teodoro Wate.
Aliás, depois de muitos debates, os dois ficaram de facto amigos adversários.
A Assembleia Municipal conheceu, como nunca acontecera na sua história, a voz de um convicto democrata, reclamando em nome dos seus concidadãos um Município aberto, contas e decisões transparentes, justiça e honestidade na gestão da coisa pública.
Lembram-se das suas perguntas à Câmara Municipal sobre se era verdade que a família Chissano e outras da nomenclatura no poder, eram os donos de vários terrenos ao longo da marginal, desde a Baixa ao Bº do Triunfo?
Nunca obteve resposta, mas o silêncio foi eloquente.
Carlos Cardoso colocou o seu jornalzinho por fax, O Metical, ao serviço da cidade e as sessões municipais tinham nele lugar cativo.
Devo confessar que na altura lhe disse que não achava muito ético que ele, autarca e jornalista, pusesse o jornal de que era proprietário e Director, ao serviço do “Juntos pela Cidade”, sacrificando objectividade e imparcialidade na reportagem.
Hoje acho ridícula essa preocupação e arrependo-me de o ter questionado por isso.
Ele era um soldado, o jornal a sua arma e ele usou-a com brio ao serviço das boas causas, pelo país e pela cidade.
Carlos Cardoso faz-nos mais falta cada dia que passa mas uma coisa é certa: a política e o jornalismo em Maputo nunca mais foram os mesmos e alguns pequenos avanços que conhecemos na imprensa, a ele os devemos.
Quanto aos corruptos, nada mudou: eles não eram adversários do Carlos Cardoso, eram os reais inimigos a quem a sua morte deu uma trégua.
Sobre o assassinato de Carlos Cardoso (1951-2000) - aqui !
Hoje, o "CATOJA", deve estar sorrindo lá no Alto !