sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008


Maishagalan med Miss Africa Sweden
7 mars 2008 kl 19.00
Plats: Musikaliska Akademiens Stora Sal,
Nybrokajen 11 i Stockholm
Välkommen till en spännande kväll i dansens tecken!Medverkande är Sveriges Souldrottning Jaqee och några av Sveriges främsta artister inom afrikansk dans och musik, bland andra: Celso Paco & Paco Sisters, Jenny Ajland med Urkraft, Seseribo, Sousou och Maher Cissoko, nyskapande Afra Blond med flera! Besök oss på: http://www.missafricasweden.se/
Maisha-galan med Miss Africa Sweden äger rum på aftonen före internationella kvinnodagen.
Vi vill givetvis denna kväll uppmärksamma kvinnor som under året genom sitt arbete och engagemang bidragit till en positiv samhällsutveckling.
Det gör vi genom utdelning av utmärkelsen årets kvinnor/Sweden African Women of the year Awards i kategorierna: inspiration, entreprenör, artist, och goodwill ambassadör.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Ilha de Mocambique

foto, Sérgio Santimano- Ilha de Mocambique 2003

Eu gostava de poder fugir a esta realidade tão fulminante.
Dizem-me os amigos para enfrentar o problema, para agarrar o touro pelos cornos.
Aliás, dizem-no sempre quando isto não é o que se passa com eles.
Não tenho dinheiro.
Gastei-o a exilar-me em mim mesmo. No álcool, algumas vezes. A pagar rodadas dele aos amigos para não ficar sozinho.
Tenho um pavor à solidão. É-me corrosiva e não sei viver com ela.
Penso, como consequência, em partir. Para onde?
Não sei, se tivesse dinheiro era para uma ilha.
A minha ilha. Moçambique. É bela. Antiga. Magistral.

Vejo-a:Um pássaro revolve as asas por dentro do verde esbatido do mar.
Traça a casa líquida que às estrelas, certamente, o seu piar vai dar.
A história é-lhe longe, são formas entrecortadas, sobre a espuma amarelecida, dos navios cargueiros que beijam lentos o horizonte e movem silenciosos outras cargas.
A ilha suspende-se entre o vento e um negro reluzente cruza a praia com os olhos lavrando as areias. Não sei se reza, mas que pensa é mais que evidente.
Testemunham os brancos cabelos e as mazelas no caqui dos desbotados calções.
Cheira a marisco a brisa que inalam as narinas dentro desta paisagem e a cânfora, alguma, das memórias que ela desenha.
As redes que sobre o chão encontro estendidas, são cartas oceânicas que escreve o fundo do mar. Do texto salta a prata dos peixes, o verde amaciado das algas e uma estrela imóvel que explode, por dentro, a terra toda a girar.
Claro que a areia as grava. Nessa forma de escrita mais milenar que a geringonça mágica de Gutemberg.
Porque Deus descansa aqui, ao cair da noite. Silenciosamente medita por entre as lágrimas das tartarugas que junto a ele vêm desovar, ou de um negro macúa, estirado sobre o desgosto, a chorar um amor que, por teimosia, não quer morrer.
Vão longe, a navegar, os versos da miséria que do Luís de Camões a história quis esconder.
Os ducados que nunca teve, nem para voltar nem para morrer, servem outros reinados e engordam a mesa dos que ainda julgam que poeta bom só miserável pode escrever.
Lêem e estudam o que não dizem os poemas, sábios doutores esses universos etários, e nem com verdade podem entender, entretanto, o que eles explodem e doem e fazem crescer no coração esquecido dos seus autores.
Por isso a Ilha é calma.
Tonta de tanta quietude e, talvez, será o que querem dizer as faces delicadas das suas negras, as mãos talhadas dos seus ourives.
Assim, o meu velho Camões, macúa zarolho só por ter visto sempre demais, terá, talvez, ali, amado o seu negro, seus humanos adamastores e com eles provado essa fatalidade incontornável de ser poeta sem ilha na ilha extensa dos que nela, até hoje, não o sabem ler.
Mas era para lá que eu queria partir.
Eduardo White
Foto; Sérgio Santimano; Bamako Novembro 2007


Aontem tomar chá não tomou….foi no serviço.
Aoje não toma vai tomar amanhã.
Não toma amanhã toma a outro dia.
Ou quando encontra toma de noite.
E quando não toma de noite então dorme.
Mas quando sonhar amendoim já tomou chá e já comeu.
(José Craveirinha in “As saborosas tangerinas de Inhambane”)

Timor-Leste

O tempo em Timor-Leste reflecte o estado de espírito dos timorenses.
Céu cinzento, águas turvas, deprimente...
E o ruído da água das chuvas, ora forte, ora em sussurro, tal como o rumor de que estamos em risco de perder as nossas referências, torna-se incomodativo.
Estamos inquietos.
Receosos.
Contudo, continuamos à espera, sempre à espera de que melhores dias virão...
E assim vamos vivendo!
Ângela Carrascalão Quinta-feira, Fevereiro 21, 2008

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Maputo Diary

Ditte Haarløv Johnsen

Galleri Hornbæk
Nordre Strandvej 315 A
3100 Hornbæk - Danmark

* Velkommen til fernisering lørdag d.1 marts kl. 14-17 *
Bemvindo á Vernissage; Sábado -01 de Marco 14h00-17h00
Udstillingsperiode:
exposicão fotográfica, decorre de;
2. marts - 30. marts
www.gallerihornbaek.dk
Tlf: +45 49 221 226
Mobil: +45 27 634 976

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Sartre

Uma vez que a liberdade explode no peito de um homem,
contra este homem nada mais podem os deuses...

domingo, 24 de fevereiro de 2008

BAYETE COMANDANTES DA VERDADE E DA JUSTIÇA!


É de medo que tentam amordaçar a verdade e as instituições feitas para servir a causa do Povo" (Graça Machel).
Samora, Cardoso e Siba SibaTrês homens de gerações diferentes
Três homens em trincheiras diferentes
Empunhando ferramentas diferentes
Pórem o mesmo ideal: a Pátria e o Povo.
A mesma postura e a integridade, a honestidade, a entrega total e abnegada
E sobretudo a CORAGEM!
Batendo-se de peito aberto
Com as mãos limpas!
A mesma morte: instantânea, brutal, mas uma morte que vos eterniza no pedestal de honra e glória que eu construí para Homens como vós, no imaginário do meu universo de sonho.
Vejo-vos irmanados nessa capacidade de se superarem como indivíduos, ao saberem conquistar e ganhar a dimensão de símbolos que não cabem no tempo e no espaço; mais importante ainda, simbolos a que o Povo se refere quando reafirma os valores que quer ver a guiar os destinos da nação.
Pudera alguns de nós ter metade da vossa Coragem!
Mas aqui e agora vos asseguro: a revolta é tão grande que já não cabe na concha do nosso silêncio deliberadamente preservado como de ouro.
E sei, vejo e ouço centenas de milhares de vozes a exprimirem a mesma revolta.
Estamos a romper a timidez que nos tentaram impôr.
Finalmente!
Sabem uma coisa?
O meu instinto diz-me que os vossos assassinos morais tem mais medo de nós do que nós deles. Os vossos assassinos morrem diáriamente uma morte lenta na indignidade e infâmia das opções que fizeram.
É de medo que tentam amordaçar a verdade e as instituicões feitas para servir a causa do Povo.
Quão "gatos escondidos com o rabo de fora".
É ou não é, Samora?
Já estão encurralados.
Por isso não hesitam em abater quem de forma tão vertical lhes recorda quão contados são os seus dias.
Por isso tanta sanha na forma como alvejam aqueles que expõem o quanto traíram o Povo que haviam jurado servir.
Não vai tardar que eles se afoguem nas ondas da ira popular.
Bayete, comandantes da verdade e da justiça!
O sacrifício das vossas vidas não é, de modo algum, em vão!
O exército do Povo está a reeguer-se.
Eu vos saúdo, com admiração!
(este texto vêm a propósito das manisfestacões populares que ocorrem em Mocambique a propósito do aumento do custo de vida a que Graca Machel referenciou num jornal diário fax "metical")

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Água - Exposição em Estugarda e Berlim

ifa-Galerie Stuttgart

© Bright Ugochukwu Eke

No colour, nor taste, it is odourless and always elusive – and yet, water is the stuff from which life once sprang, the metaphor for anything unfathomable, a matter of emotion and yearning, and thus a subject for art.

But in the meantime water has also become a most vitally important issue for the 21st century’s world: a natural force, a commodity rather than a myth, a weapon instead of a human right.For this reason the Institute for Foreign Cultural Relations has invited seven artists for its new exhibition at ifa gallery, Stuttgart, to have a critical look at water: water as a natural resource and the elixir of life, but also a risky political issue, especially in Africa and the Middle East.In their photos, videos and installation works Taysir Batniji, Erdal Buldun, Bright Ugochukwu Eke, Lutz & Guggisberg, Mohamed Romène, Sérgio Santimano und Benjamin Wild explore various aspects of mankind’s relation with water. While being highly critical of our reckless behaviour towards this precious liquid they nevertheless all dive in with relish.

They give us something to think about, but above all they invite us to experience this elusive element in symbolic images that are full of sensuousness.
Benjamin Wild (*1981, Cologne) raises the issue on a global scale: in his installation of books and digital media he turns water and land upside down and confronts the viewer with the question “What if…” the sea became land and the land turned into sea?
Lutz & Guggisberg (*1968 and 1966, Zurich) combine nature and culture in a playful and wondrously subversive way: their video installation “Once, I heard him, and he was washing the world then” sounds the depths of the relation between man, technology and nature and soundly undermines them.
It is not only global issues but also local “water problems” that can become the subject of artists when dealing with “man’s and water’s needs”: So, Bright Ugochukwu Eke (*1976, Nsukka), in his installation „Shields“, focuses on acid rain in Nigeria, while Taysir Batniji (*1966, Palestine und Paris) will develop a work, that, in a gentle and poetic way, deals with water not only as matter and carrier of meanings, but also with its political implications of water as a weapon and commodity: he will write down the 109 different Arabic names for water with water.
They will evaporate, dry out and disappear, thus symbolizing the importance of water in many regions especially of the Middle East where it is in short supply and can become the cause for wars.
Yet, despite all hardships connected with water, it is also a matter of joy! In his photographs Sérgio Santimano (*1956, Uppsala und Maputo) gives us a glimpse of life in Moçambique with much, sometimes too much, but also sometimes much too little water.
Mohamed Romène (*1967, Hammamet) will show a series of photographs portraying a Tunesian hamam and its bathers; the public bath, both the space and its rituals, is in imminent danger of becoming extinct, in Europe as well as in the Arabic world.
Erdal Buldun (*1964, Munich) visualises his own longing for life by the sea, a longing instilled by his childhood days in Izmir at the Mediterranean coast of Turkey and shared by so many other people: water as the very source of happiness.
In their work these three photographers present us with water, this liquid godsend, which we drink, wash with, which we immerse ourselves in, fish in and by which we dream.Nature and the environment are the main focus of “on stage: nature”, a series of exhibitions for the ifa galleries in 2008/2009.
The exhibition is accompanied by a fully illustrated 64 pages catalogue, with essays by Malu Halasa, Iris Lenz, Peter Weber, Mia Couto and others.
Artists;
Taysir Batniji
Erdal Buldun
Bright Ugochukwu Eke
Lutz/Guggisberg
Mohamed Romène
Sérgio Santimano
Benjamin Wild

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

JOÃO PAULO (1948-2008)

Calou-se a voz moçambicana do blues.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Foto; S. Santimano , Bamako Nov. 2007

Lindiwa, porém, era uma mulher nova,
o sangue corria-lhe impaciente nas veias,
desejava ser amada, acordar todos os dias nos braços de alguém,
como o capim debaixo da cacimba.

Marcelo Panguana, Os Ossos de Ngungunhanha

Gouveia Lemos

Uma parte da "minha estória" de vida para dividir com vocês...
7 de Outubro 1962
Ao romper do dia, a data era saudada na redação do jornal com brindes e hurras: estava sendo lançado o primeiro número da Tribuna em Lourenço Marques, capital de Moçambique.
À frente de uma elite de jornalistas, e contratado com plenos poderes para criar algo novo na imprensa local, Gouveia Lemos via nascer, junto com o sol, a realização de um velho sonho.
O dia começava abafado em Lourenço Marques. Gouveia Lemos (o nosso Veríssimo) abria a porta de casa exausto mas feliz.
O sol despontava no oceano Índico, o bairro Bico Dourado ainda parecia dormir.
Respirou fundo antes de entrar, olhou uma cesta com mantimentos na calçada junto à porta, deu dois passos no corredor escuro, quase se chocou com a negra Mamana Rabeca.
Bom dia, Mamana, que cesta é essa aí fora ?
O homem deixou aí prás crianças, patrão.
Que homem, Mamana ?
Não sei, patrão, é o homem da rua. Outra vez, o homem da rua – saiu murmurando Veríssimo. Sem sono, sentou-se numa poltrona, olhando a sala ainda na penumbra.
A Madalena e os cinco filhos ainda dormiam.
Acendeu o abajur de pé alto, e abriu o jornal.
Trouxera-o debaixo do braço ainda cheirando a tinta fresca.
Era o primeiro exemplar da Tribuna que ele ia guardar como um troféu.
Já o lera e relera, conferira linha por linha, cuidadoso como nunca, sob a paranóia da censura. Relia agora com mais calma, e mais prazer as páginas bem diagramadas, arejadas, as matérias ousadas com belas fotos, enfim, um jornal independente, feito inteiramente a seu critério. Olhava-o como pai que lambia a cria.
Tinha finalmente nos seus braços não apenas um jornal como outros onde colaborara ou fora diretor durante uns sete anos: tinha agora no seu colo um filho que ele gerara, do qual fora pai e mãe, após uma gravidez sofrida de meses.
E que acabara de trazer à luz, após um parto laborioso que se estendera por toda a madrugada, sob as ameaças sinistras dos censores.
Jornalista rebelde, difícil de domar, e um dos profissionais mais visados pela ditadura, fora ousado demais ao requerer licença para fundar um jornal inteiramente confiado à sua direção.
Após meses de negaças, jogo de gato e rato, promessas não cumpridas, edições prontas atiradas ao lixo por impedimentos de última hora, saíra a licença.
Com cinco filhos e mais um a caminho, e sem salário, valia-se da própria coragem e do apoio moral e material de amigos intelectuais – Rui Knopfli, José Craveirinha, Eugénio Lisboa, Carlos Adrião Rodrigues e família.
E do misterioso homem da rua que diariamente deixava a sua contribuição de mantimentos. Valia-se também do apoio não menos nobre da Mamana, uma negra de alma iluminada e coração imenso, que há meses trabalhava sem receber salário.
E que, vez por outra, levava discretamente para a sua palhoça as crianças que vira nascer e ajudara a criar para lhes dar o lanche que estava faltando na casa do patrão.
A Tribuna, estimulada por tanta solidariedade, nascia sob a luz da esperança.
Havia perspectivas de abertura por parte do Ministro do Ultramar e do Governador de Moçambique.
A partir dos primeiros números, as matérias do novo jornal faziam sucesso.
Com habilidade, denunciava a detenção injusta de um poeta acusado de crimes políticos, criticava o código de trabalho rural do ultramar, publicava entrevista com Ben Bella sobre a independência da Argélia, e apelava aos vereadores de Lourenço Marques para que olhassem menos para os bairros de luxo, e olhassem mais para os quatro quintos da cidade feitos de caniço, construíssem bairros econômicos, distribuíssem água canalizada, luz, e fizessem saneamento.
O jornal começava avançado demais para o gosto dos poderosos.
Com uma agravante: o nascimento da Frelimo com o objetivo de lutar pela independência da colônia, e a perspectiva de uma guerrilha igual às da Guiné e Angola começava a despertar preocupações.
Resultado : em menos de um ano, o jornal sem verbas de propaganda, sem crédito, sem tinta e papel, passava para as mãos salazaristas do Banco Nacional Ultramarino.
O sonho durara pouco.
Daqui em diante, Gouveia Lemos não tinha alternativa.
Tinha que voltar a um jornalismo melancólico sob duas censuras simultâneas : a do jornal (a que mais detestava) e a do governo.
Entretanto, a Frelimo inicia a guerrilha em Moçambique.
Há pressões da ONU, dos EUA, Rússia e Grã-Bretanha pela auto-determinação do ultramar português.
Os Bispos da Beira e de Nampula em Moçambique denunciam crimes das autoridades contra os direitos humanos e sofrem perseguições.
As perseguições estendem-se a freiras e missionários.
A partir de novembro de 1964, Gouveia Lemos assume o cargo de diretor técnico do Notícias da Beira.
Em 7 de setembro de 1968, Salazar sofre um acidente, e é afastado do governo em conseqüência de um hematoma cerebral.
Para a oposição, é um 7 de setembro que prenuncia a libertação da ditadura.
Assume o governo Marcelo Caetano de tendência liberalizante.
Na direção do Notícias faz-se sentir essa tendência.
Em 1972, acontece na cidade da Beira uma morte que atrai suspeitas : o corpo de uma jovem cai do alto de um edifício.
Suspeita-se de assassinato.
O réu estaria entre a oficialidade do exército português envolvido na guerra colonial.
O inquérito estava sendo abafado, enquanto as autoridades divulgavam a versão de suicídio. Gouveia Lemos manda apurar a verdade por jornalistas subalternos.
Segundo fonte limpa, trata-se de crime passional por parte de um militar casado que pretendia livrar-se da amante para evitar o escândalo de adultério.
Gouveia Lemos começa uma campanha exigindo apuração da verdade.
A campanha inicia-se com o título Cadáveres não se suicidam. Ganha repercussão, as autoridades militares reagem, pressionam o jornal, e Gouveia Lemos é intimado pela direção do jornal a calar-se. O Veríssimo (superlativo de vero – verdadeiro) que tinha a fidelidade à verdade como princípio sagrado, sentiu-se achincalhado.Era a gota d’água.
Com a saúde abalada, e tendo que fazer nova cirurgia no coração, começa a pensar em deixar de vez Moçambique, e vir para o Brasil.
Por ocasião do Natal de 1971, escreve-me uma carta de quatro páginas sobre o seu projeto de emigrar.
Lembra os dias em que esteve conosco no Rio com a Madalena numa segunda viagem a convite nosso, por ocasião da morte da filhinha caçula Maria João, vítima de malária. Começava com um desabafo: os horizontes não se abrem.
O meu entusiasmo desaparece. Pensa também em submeter-se aqui à segunda cirurgia de coração.
E diz o motivo : deixei-me tomar pelo desejo de a fazer aí, junto dos meus, com a minha mulher e os meus filhos entregues aos meus.
Perdera o entusiasmo pela profissão, e com a morte da caçulinha, perdera o entusiasmo pela vida.
Adiara a segunda operação por tempo demasiado, e encarava com realismo a perspectiva de não resistir ao último desafio que a vida lhe preparava.

Em fevereiro de 1972, Gouveia Lemos (o nosso Veríssimo) desembarcava no Rio com a mulher, cinco filhos, e a grande ausência da Joãozinho. Após catorze anos, voltava ao Brasil, tentando refazer a vida.
Vinha murcho, cansado de lutas, desgostos e decepções. Se tivesse antecipado a viagem, talvez desembarcasse com menos uma dor e mais uma criança.
Ao sorriso aberto pelo encontro com a família, juntava-se um sorriso íntimo de ironia pelos sonhos que deixara pelo caminho : exercer o jornalismo algum dia, dignamente, com liberdade.
A dura realidade é que largara uma ditadura para tentar vida numa outra ditadura.
A democracia brasileira, que ele conhecera e o encantara quando aqui esteve há 14 anos, entrara em colapso, desde 1964.
Sem perda de tempo, tinha que se abrir sobre o que mais o preocupava nesta debandada. Escolheu o irmão mais novo, o Luis Bernardo (Menau), para uma conversa reservada no Jardim Botânico.
A diferença de 13 anos entre as suas idades contava pouco, tais as afinidades que o irmão mais velho, após muitos anos de ausência, viu reveladas no mais novo : uma alma gêmea madura, inteligente, identificada com as suas idéias.
O problema da válvula mitral agravara-se, a cirurgia demasiado adiada era extremamente delicada e, com mulher e cinco filhos, o assunto da conversa não tinha tanto a ver com projetos de vida, mas com a perspectiva da morte.
Esse preâmbulo, colocado com a firmeza e a coragem de quem já conhecera muitas faces da adversidade, escureceu a vista do irmão caçula.
A aléia principal do Jardim Botânico parecia agora mergulhada em sombras.
Para mim, portanto – continuava o Veríssimo – o objetivo maior desta vinda é poder ir para a sala de cirurgia certo de que a família que eu criei, ficou entregue à família com a qual eu fui criado. Na hipótese de acontecer o pior, esse é o legado que vim trazer pra vocês.
Essas palavras sobre uma morte prenunciada, caíam como petardos nos ouvidos do irmão. A caminhada continuou, agora silenciosa, entre as palmeiras imperiais.
O Luiz Bernardo, engasgado, tentou recompor-se, ergueu os olhos seguindo o tronco alto das palmeiras, procurando algo, uma luz vinda lá de cima, que dissipasse aquele pesadelo.
Sentaram-se à sombra de uma jaqueira, de olhar vago sobre as vitórias e ninféias do grande lago, onde as águas refletiam o azul do céu..
Em volta, o jardim resplendia ao sol, falava de vida, era um festival de cores. Não há-de ser nada - concluiu um deles. Não há de ser nada – repetiu o outro.
Dias depois, aconteceu a cirurgia.
Alívio geral : segundo o cirurgião, fora um sucesso.
Com a recuperação já adiantada, combinou-se a celebração: seria no Domingo de Páscoa, no próprio apartamento do Veríssimo, recém montado em Ipanema.
Estávamos de saída com as crianças, abro a porta, chamo o elevador, o telefone toca. Do outro lado, a voz de uma empregada informa lacônica e cortante : Senhor Vítor, o senhor Veríssimo acaba de falecer.

--- § ---
Estamos no cemitério. O meu irmão vai ser sepultado com os seus sonhos em cinzas.
O seu corpo está sendo velado como espólio de uma guerra perdida.
E no mesmo lugar – é duro lembrar - onde, há 15 anos, foi sepultada a nossa irmã Maria Tereza, vítima de uma encefalite virótica.
Com o casamento marcado, apartamento pronto para morar, o vestido de noiva pendurado no armário.
A maioria dos rostos pálidos de óculos escuros - porque é hábito nosso esconder as lágrimas – lançava os últimos olhares sobre aquele Dom Quixote deposto e sem armas.
Só o meu amigo surdo-mudo me aparece, lágrimas escorrendo, porque é essa a sua única maneira de me falar. Abraço-o com um abraço especial, eu também surdo-mudo, porque, perante a intensidade de certas dores, nada mais há para falar ou ouvir.
Para lá do cemitério, imagino um muro que vai até ao céu, um muro impenetrável que nos separa do invisível, um outro mundo onde a justiça seja possível.
O mundo que nos foi ensinado no catecismo da infância, procurando dar-nos um sentido à vida e à morte.
Como em todos os enterros, as conversas são evasivas, derivam para trivialidades : o tempo, a temperatura, vai chover, não vai chover, como vão os negócios, as últimas do noticiário, a política. Mas o muro continua lá com o seu silêncio pétreo, aliado à frieza dos mármores nas sepulturas. Amplo cenário de mistérios que nos encara desafiando as nossas indagações sobre os mistérios do outro lado.
Terminado o sepultamento, os convidados voltam à vida.
Lá fora, a megalópole estremece o solo, ressoa ensurdecedora como uma discoteca feita para acordá-los do pesadelo.
Na rua, a vida, afinal, continua vibrante, ainda pode ser bela na cidade maravilhosa.
Lá fora, o amanhã nos espera.
E amanhã será outro dia.
Vitor Lemos

O meu obrigado ao António Lemos (Zurique)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A MÃO ESTRANHA

O Primeiro Ministro denunciou a presença de uma "mão estranha" na convocatória da greve geral pelos sindicatos moçambicanos.
No entanto, o SACANA foi o único órgão de informação que conseguiu localizar essa "mão estranha" e fotografá-la para conhecimento dos seus leitores e comprovação das palavras daquele dirigente.
Como podem ver, trata-se, de facto, de uma mão muito estranha...
in: Sacana, suplemento humorístico do Savana4 de Agosto de 2000
CENTENAS de pessoas tomaram ontem(11 Fev.) de assalto o mercado “Senta Baixo”, o maior bazar informal, e outras zonas da cidade de Chókwè, província de Gaza, aparentemente sob pretexto do elevado custo de vida e também contra a nova tarifa do “chapa”, cuja aplicação, tal como em Maputo e Matola, está suspensa.
Entre os danos causados pela agitação criada resultou um morto e casos isolados de tentativa de saque a estabelecimentos comerciais da pacata cidade de Chókwè.
in: Notícias

Ai,Timor-Leste!


Atiraram contra o Presidente e feriram-no, atacaram o carro do Primeiro-Ministro mas, felizmente, não o atingiram.
Sinto uma imensa tristeza e uma vergonha ainda maior!
Ângela Carrascalão

Moda ZACA ZA ??

Enviado pelo corresponde (Ponte) em Inhambane ao que muito agradeco !!!
O estiloso de Namacata‏...

Nota de Imprensa


MISA-Moçambique e Centro de Integridade Pública
Manifestações de 5 de Fevereiro confirmam a existência de censura nos media moçambicanos
As manifestações populares havidas na passada terça-feira, 5 de Fevereiro de 2008, nas cidades de Maputo e Matola, não só trouxeram um pesado fardo para a economia do país como também mostraram quão forte é ainda o controlo governamental sobre os órgãos de comunicação social públicos e privados.
A cobertura dos incidentes foi muito condicionada. O MISA-Moçambique e o Centro de Integridade Pública estiveram atentos à forma como os incidentes foram reportados pelos diversos órgãos de comunicação social e, com base em observação directa e recurso a entrevistas com jornalistas e editores, apurámos o seguinte:
. Logo nas primeiras horas da manhã, a STV começou a reportar a revolta popular com directos a partir dos locais em que a violência era mais notória. Por volta das 9.30 horas, este canal trazia algumas incidências, ajudando muitos cidadãos a se precaveram. Mas os directos da STV foram bruscamente interrompidos por volta das 10 horas, tendo o canal passado a transmitir uma telenovela;
· No canal público, a TVM, ao longo da manhã, as revoltas não foram notícia. Ao invés de informar sobre os acontecimentos, a TVM transmitia reportagens sobre o CAN (Taça das Nações Africanas em futebol);
· No seu Jornal da Tarde dessa terça-feira, a TVM não dedicou um minuto sequer às manifestações, que haviam iniciado cedo pela manhã, embora alguns repórteres daquela estação pública se tivessem feito à rua com o propósito de documentarem o que estava a acontecer;
· À noite, no Telejornal, quando os telespectadores esperavam que o canal público trouxesse um retrato detalhado dos acontecimentos, a TVM abordou o assunto de uma forma marginal, negligenciando o facto de que, no domínio da informação, aquele era um assunto de inquestionável destaque;
· Segundo apurámos, um veterano jornalista da TVM hoje fora da Chefia da Redacção terá recebido “ordens superiores” para vigiar “conteúdos noticiosos subversivos”;
· Na Rádio Moçambique (RM), repórteres que se encontravam em vários pontos das cidades de Maputo e Matola foram obrigados, na tarde daquela terça-feira, a interromper as reportagens em directo que vinham fazendo desde as primeiras horas e instruídos a recolherem à Redacção, supostamente como forma de se evitar um alegado “efeito dominó” dos acontecimentos;
· No decurso do Jornal da Manhã de terça-feira, o jornalista Emílio Manhique anunciou que, no seu talk show denominado “Café da Manhã” do dia seguinte, quarta-feira, teria como convidado o sociólogo Carlos Serra, para fazer comentários sobre as manifestações populares. Mas, ao princípio da tarde do mesmo dia, Serra recebeu uma chamada da RM, através da qual foi informado que o o convite tinha sido cancelado “por ordens superiores”.

Na quarta, no lugar de o Café da Manhã debater os incidentes do dia anterior, o tema de destaque foi o HIV/Sida. Isto levou a que muitos ouvintes da RM telefonassem para a estação manifestando-se decepcionados com rádio pública, dado que o assunto do momento eram as manifestações;
· O Jornal Notícias, que tem como um dos accionistas principais o Banco de Moçambique, também não escapou a este esforçou de omitir as evidência. Logo que se aperceberam da revolta, os executivos editoriais do jornal destacaram várias equipas de reportagem para a rua, mas as peças produzidas foram editadas numa perspectiva de escamotear a realidade.

No dia seguinte, o jornal apresentava textos onde se destacavam frases do tipo “…quando populares e oportunistas se manifestaram de forma violenta, a pretexto de protestarem contra a subida das tarifas dos semi-colectivos…”, e “…entre pequenos exércitos de desempregados e gente de conduta duvidosa…”, etc, etc.
Estes e outros factos mostram que a cobertura noticiosa de acontecimentos sensíveis continua a ser alvo de controlo governamental, privando a opinião pública de ter acesso a informação.

No caso vertente, a informação sobre o que estava a acontecer em vários pontos do Grande Maputo era vital para que os cidadãos desprevenidos tomassem conhecimento dos lugares onde a revolta era mais violenta, evitando assim se exporem a riscos.

Por outro lado, muitos populares prestaram declarações a jornalistas, mas elas não foram transmitidas, vendo assim a sua liberdade de se expressarem mutilada.
Estas marcas de censura são perniciosas para a sociedade moçambicana.

No caso da TVM, a mão do Governo no controlo editorial mostra que a noção de serviço público com que a estação opera não significa colocá-la ao serviço do povo (e dos contribuintes) , informando com isenção e rigor.
Estes condicionalismos a que o trabalho dos jornalistas está sujeito traduz-se numa clara violação à Constituição da República de Moçambique (CRM), nomeadamente no seu artigo 48º, que versa sobre Liberdades de Expressão e Informação, e à Lei de Imprensa (Lei 18/91 de 10 de Agosto). A Constituição é clara quando refere que “todos os cidadãos têm direito à liberdade de expressão, à liberdade de imprensa, bem como o direito à informação” e que “o exercício da liberdade de expressão, que compreende nomeadamente a faculdade de divulgar o próprio pensamento por todos os meios legais, e o exercício do direito à informação, não podem ser limitados por censura”.
O relato dos actos da revolta da passada terça-feira era do interesse público, pois a mesma afectou negativamente vários sectores da sociedade moçambicana, tanto mais que na mesma ocasião que a revolta percorria as ruas do Grande Maputo, a comunicação por telemóvel tornou-se, estranhamente, difícil ou mesmo impossível.

A forma como alguns órgãos de comunicação social se portaram, omitindo uma revolta evidente ou escamoteando a sua dimensão e as suas causas, sugere um cada vez maior controlo governamental sobre o sector.

Esta governamentalização actua no sentido contrário ao plasmado na Constituição da República e na Lei de Imprensa, nomeadamente porque coarcta o acesso à informação. Avaliações recentes, como o espelha o Relatório de 2006 do MISA-Moçambique sobre Liberdade de Imprensa publicado no ano passado, mostram um crescente aumento da vigia das autoridades do Estado sobre os media, destacando-se a censura, o que em estado a deteriorar o ambiente de trabalho dos jornalistas.
O MISA-Moçambique e o CIP apelam a quem de direito para que se não intrometa no trabalho dos jornalistas e dos seus órgãos de comunicação social, por tal se traduzir em violação crassa à CRM e à Lei de Imprensa.

Maputo, 10 de Fevereiro de 2008

MISA-Moçambique e CIP

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Carta

Sua Excia Senhor Presidente da Republica
Dirijo-me a si, na sua qualidade do mais alto magistrado da nacão!
Excia; Um acontecimento sem precedentes registou-se ontem na capital do pais.
Pela primeira vez depois da independencia nacional a populacão de Maputo saiu á rua com um unico proposito- dizer de forma clara e inequivoca de que ja está farto das instituicões estatais e que pelo menos desta vez, iria resolver os seus problemas, usando as suas proprias maos! Trazendo para si, a solucão dos seus problemas!
E para surpresa de todos, RESOLVEU!
Excia, como deve se recordar os manuais da teoria do estado, dizem que o estado nasceu quando o povo decidiu pasar parte da sua soberania para uma entidade própria, em troca de bens publicos -seguranca, estradas, justica, entre outras.
E que tal entidade exerceria o poder e a soberania, 'emprestada' em nome desse povo, estabelecendo assim uma especie de contrato social, com direitos e deveres de ambas as partes! Só que no nosso caso Excia, parece que o contrato social se rompeu, ou está em vias de se romper.
Uma das partes, o povo, cansou-se da ineficiencia da outra.
Cansou-se e parece que quer recuperar se não toda pelo menos uma parte dos poderes 'emprestados'.
Só que Excia, a história mostra-nos que, quando o poder cai na rua, as consequencias põdem ser catastróficas, porque, muitas as vezes ao invés de usar a razão o povo pode decidir baseado em emocões, com consequencias catastróficas para ele próprio e para o estado.
Excia, dizia eu que um acontecimento sem precedentes se registou ontem. Um acontecimento que a seu vêr pode parecer minúsculo, uma pequenha ranhura no edificio da democracia.
Mas essa ranhura pode ser apenas a ponta do iceberg!
Este acontecimento deve ser analisado de forma franca e fria pela sociedade mocambicana.
Pela classe academica, empresarial e politica, porque pode vir a ter consequencias graves para a legitimidade e sobevivencia do estado mocambicano.
Uma coisa é a populacão de um bairro fazer justica pelas próprias mãos, atirando um pneu na rua ou no corpo do suspeito ladrão ou assassino. Outra coisa é a populacão de vários bairros, quase que de forma espontanea sair das ruas e dizer não a uma medida social.
Criou-se um precedente. E o 'recuo' do governo ou de quem quer que tenha tomado a decisão, mostrou inequivocamente e feliz ou infelizmente, que a> solucao, por mais racional ou irracional que pareca , FUNCIONA!
Ora funcionando então, a lógica dita que pode vir a ser re-activada! E ao ser reactivada quando as circunstancias assim o obrigarem, estará consumada a des-legitimizacão do estado, que iniciou a anos, mas que ontem atingiu um ponto sem retorno!
Excia;
Os sinais de uma possivel convulsão social nao são de hoje.
A justica pelas próprias mãos, a não participacão nos actos eleitorais ou seja o elevado número de abstencões em momentos eleitorais, o crescimento da criminalidade, são sinais inequivocos de uma sociedade amordacada que clama em ser ouvida.
Ou, de uma sociedade que no minimo não tem mecanismos para ser ouvida e influenciar decisões. E isso é grave. Não é por acaso que as tampas das panelas tem furos, que permitem que parte da energia proveniente do calor se vá libertando aos poucos.
Infelizmente parece que a tampa da nossa panela social tem tais furos entupidos. E cabe a si, entanto que magstrado mais alto da nacão ordenar a limpeza de tais 'furos sociais' para que a forca, a energia se vá libertando.
Este aspecto deve ser analisado.
Recordemo-nos dos vários estudos sobre a situacão social e a possibilitada de erupcão de conflitos violentos em Mocambique feitos por entidades nacionais quer internacionais(DfID,> Swuiss Peace e outros).
Excia;
Gostaria de chamar a sua atencão para um outro ponto.
O grau de violencia das manifestacões, que não pouparam as suas vitimas fossem elas agentes do estado ou privados.
Ou seja a panela estava tão quente (e a populacão tão 'aborrecida') que näo lhe interessavam as consequencias dos seus actos.
Foram partidas montras, partidos vidros de carros públicos e particulares, e mesmo um posto de abastecimento de combustivel não foi poupado! E responsabilidade por estes danos cabe ao estado pois é o estado que detem o monopólio da violência e tem o dever de garantir a seguranca quer dos bens como dos individuos.
Mas para mim acima de tudo isto ficou, uma mensagem clara para a sociedade Mocambicana e para a comunidade internacional.
O velocimetro que estamos a usar para medir a nossa velocidade nacional; o termómetro que estamos a usar para medir a temperatura do nosso corpo nacional, não é nosso e nem foi feito para seres humanos da nossa especie!
A medida para os nossos problemas, o juiz do nosso progresso social não é e não deve sêr o Banco Mundial!
Explico-me Excia;
Os distúrbios acontecem um dia depois de o presidente do Banco Mundial em pessoa ter visitado o país (Maputo, Sofala e Inhambane) e ter dado não apenas uma nota positiva ao governo, mas sim uma nota de despensa!
Estäo Excia, como é que se explica que depois de despensar com nota de luxo, menos de 24 horas passadas temos a convulsão que temos?
Para mim Excia, o povo, esse 'animal' soberano chumbou não apenas a despensa dos senhores do mundo como dos seus colaboradores nacionais, que V. Excia representa, dizendo com voz própria e bem audivel
-BASTA!
Reflictamos pois mocambicanos sobre os caminhos a seguir! Tenhamos a coragem e destreza necessaria para longe de emocões momentaneas ou Mandraianas, dicutirmos a sombra da mafurreira ou da mangueira o país real- o nosso país real e não o país deles.
Sim o país real e não o fictício ou das aritiméticas de Bretton Woods.
Já dissemos em vários foruns para quem nos quis ouvir que 'crescimento económico não é igual a desenvolvimento'!
Não permitamos que o nosso estado se deslegitimize ao ponto de não servir para resolver os problemas mais elementares da sobrevivencia humana! O povo soberano falou, falta sabermos se os detentores do poder, a classe académica, empresarial e sobretudo a política tem ouvidos para ouvir! Falta saber se haverá destreza necessária para diagnosticar o mal pela raiz ou então se uma vez mais esconderemos a cabeca deixando o rabo de fora, dizendo que o 'povo foi instrumentalizado', que o povo foi 'usado' que as manifestacões foram 'organizadas' por forcas externas, os tais e eternos 'inimigos do povo e da nacao mocambicana'
Excia;
Chega de Quénias, chega de Chades, chega de Liberias, chega de Serra Leoas, Eritreias, Congos! Defendamos a nossa sobrevivência entanto que NACÃO mocambicana! O senhor, como o mais alto magistrado da nacão, tem uma palavra a dizer na forma como é gerida a 'coisa publica'! Aguardamos o seu pronunciamento e quica o cachimbo da paz social!
Sabemos que recentemente fez anos.
Tambem sabemos que acaba de celebrar três anos do seu mandato.
Seria de mau tom terminarmos esta carta sem lhe desejamos parabéns e 'bom apetite' no consumo da prenda que o povo de Maputo, lhe ofereceu ontem!
E mais nao disse!
Manuel de Araujo

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Opening Night Gala

Dear Members & Friends,
Please find info below of the opening, as of today, of the 8th CinemAfrica Film Festival in Stockholm, both from CinemAfrica and from The South African Society in Sweden.
And tonight in Hollywood the Pan African Film and Arts Festival will open with Namibia; The Struggle for Liberation - please find more info below.
We're happy to be back after our long absence - please be prepared for quite a lot of news in the near future!
Best regards,
The Board

The Pan African Film and Arts Festival (PAFF) Opening Night Gala is the official start to PAFF. Always a star-studded red carpet affair, the Opening Night Gala is attended by Hollywood celebrities, elected officials, African dignitaries, civic and community leaders, filmmakers, and more. This year’s expected attendance is 800 and will include a screening of the featured film, Q&A with the filmmakers and actor, and after party.

The 16th Annual PAFF Opening Night Gala is sponsored in part by the Namibia Film Commission and will be hosted by 2008 PAFF Celebrity Host Isaiah Washington.
Starring Carl Lumbly, Danny Glover , Joel Haikali, and Obed Emvula, NAMIBIA:
THE STRUGGLE FOR LIBERATION depicts the long struggle waged by the people of Namibia for their independence that was ultimately won with the help of Cuban military volunteers fighting in Angola .
The 1987 battle of Cuito Cuanavale, in which the South African army was decisively defeated, turned the tide in the liberation struggle for all of Southern Africa.
This was one of the key factors that led to Namibian Independence and the election of Sam Nujoma as Namibia 's first President and forced the white supremacist South African government to free President Nelson Mandela and to negotiate with the African National Congress.

Opinião; Carlos Serra

Foto; Sérgio santimano "terra incógnita" - Niassa 2001-2005

Permitam-me deixar aqui algumas ideias canhestras.
Seja o que for que venha a decidir-se nas conversações entre o governo e a federação de transportadores, não se decidirá, certamente, aumentar as tarifas dos chapas.
Por outras palavras: só poderá decidir-se nada se decidir em termos de aumento.
O Estado está agora refém de uma má decisão, de uma precipitação, o de ter suposto que as pessoas aguentariam mais um peso à Sisífo: o seu destino é o de não aumentar as tarifas.
Se o fizer, se as aumentar, se as deixar aumentar, expõe-se ao alargamento da zona sísmica social já existente em Maputo e à perda drástica de legimitidade nas margens das eleições. Naturalmente que os transportadores têm todo o interesse em incrementar os seus lucros e por isso estão em posição aparente de vantagem.
Mas também eles são agora reféns do povo: se embarcam em aumentos, o povo embarca em terramotos sociais.
Finalmente: o Estado, que aprendeu a tornar-se refém dos transportadores privados e que por isso tem que arcar com ónus do problema, parece ainda não se ter lembrado de reactivar a empresa de transportes públicos, empresa cuja frota ainda não requisitou quando o povo vive dificuldades.
Se o Estado abdica disso e se deixa tudo ao bom-senso de um acordo razoável com os transportadores, abdica do seu povo. Se abdica do seu povo, pagará uma cara factura política. Neste momento, de nada adianta estar a atribuir aos marginais, aos arruaceiros, as causas de um problema, de um sismo social que nada tem a ver com marginais.
Ou melhor dito: tem a ver sim, tem a ver com os marginais, com os marginalizados do bem-estar, com os excluídos de um sistema social que os produz e reproduz diariamente.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Três

Foto; Gigi "da minha janela " Holanda
Passo e amo e ardo.

Água? Brisa? Luz?
Não sei.

E tenho pressa:
Levo comigo uma criança

Que nunca viu o mar.

Eugénio de Andrade

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Protestos violentos anti-aumentos agitam Maputo

(Foto - Arca Moçambique)


Eleutério Fenita
Em Maputo

Os revoltos cortaram o trânsito em várias ruas.
Em Moçambique, a capital esteve esta terça-feira a ferro e fogo na sequência de violentos protestos contra a subida das tarifas dos chapas, como são designados os transportes privados de passageiros.
Várias pessoas ficaram feridas, estabelecimentos comerciais foram atacados e viaturas incendiadas por populares furiosos e armados de paus e pedras.
Em muitos dos bairros e artérias foram erguidas barricadas, havendo igualmente o registo de elevados danos materiais e pilhagens.
A polícia insiste que a situação está sob controlo.
Pneus em chamas
No epicentro estiveram os bairros periféricos de Maputo, com destaque para o Zimpeto de onde uma residente falou de “barricadas na estrada e gritos das pessoas exigindo que os carros voltassem, regressassem e não furassem as barreiras”.
Poucas horas depois a confusão já se havia alastrado a algumas principais artérias da capital Moçambicana, como aliás a BBC pôde testemunhar e registar.
No prolongamento da Avenida Vladimir Lenine, a começar pela Praça da Organização da Mulher Moçambicana, a nossa reportagem deparou-se com pneus em chamas e uma multidão furiosa, armada de paus e pedras – à semelhança do que aconteceu um pouco pela maioría dos bairros segundo confirmaram pessoas por nós contactadas.
Contornos violentos
Os aumentos das tarifas dos chapas como pretexto para os distúrmbios(Foto "Oficina de Sociologia")
“Eles violentavam tudo o que aparecia pela frente!”, disse uma delas. Fomos obrigados a recuar.
À medida que a situação ía evoluindo, cresciam também de forma alarmante os contornos violentos dos protestos, tendo sido visados principalmente visadas viaturas, estabelecimentos comerciais, gasolineiras entre outros.
Os ‘chapas’, alvo preferencial nesta espiral de violência, refugiaram-se aonde e como puderam e a maior parte dos seus motoristas recusou comentar os acontecimentos.
“Não sabemos de nada” defendeu-se um deles numa língua local.
Apelo à calma
Enquanto isso a polícia começava a desdobrar-se pelos bairros e artérias tomadas pela violência.
“A Força de Intervenção Rápida está aqui e usou gás lacrimogénio mas não armas de fogo”, relatou-nos uma fonte.
O vice-ministro do Interior José Mandra lamentou que os protaganistas desta onda de violência “sejam maioritariam adolescentes, provalmente delinquentes e desempregados”.
Apelou à calma e assegura que a situação está sob controlo.

Aumento do custo de vida preocupa moçambicanos

Eleutério Fenita ( BBC )
Em Maputo
Em menos de uma semana aumentaram o pão e os combustíveis
Em Moçambique, o custo de vida continua a encarecer por entre fortes protestos do cidadão comum.
No espaço de uma semana foi anunciado o aumento dos preços dos combustíveis e do pão, uma vez mais obrigando milhares de famílias Moçambicanas a voltar a apertar o cinto.
O aumento do preço do pão, em vigor dentro de dias e numa escala que vai até aos 14,3 por cento é atribuído pelos panificadores aos crescentes custos da farinha de trigo.
O dos combustíveis, esse estará relacionado com a actual conjuntura internacional.
Efeito dominó.
É assim que o gasóleo subiu 14 por cento, a gasolina 8,1 e o petróleo de iluminação, ainda bastante comum nas zonas rurais, deu um salto de 19 por cento.
Escusado será referimo-nos ao efeito dominó que este desenvolvimento terá relativamente aos preços de quase tudo o resto, a verdade é que este vai ser mais um apertar de cinto.
Por entre o sarcarmos e o conformismo já há quem diga que de tanto apertá-lo o mais dia menos dias o cinto rebenta.
Numa recolha de opiniões realizada pela BBC, um cidadão afirmou que “isto está a provocar muitos transtornos, o vencimento não chega mesmo assim vou tentar comprar o pão porque os meus filhos querem comer”.
Solução?
Uma mulher diz angustiada “aumenta o preço mas nunca o tamanho do pão ”.
Muitos dos entrevistados concordam que “sem pão a gente não vive, sem combustível também não”, ao que um utente dos vulgos chapas, como são designados os transportes privados de passageiros e carga, responde explicando “que tenho seis filhos e pagar a sua matrícula já é um problema.

Moro na Zona Verde (nos arredores de Maputo) e se o chapa aumentar não sei como será”.
E então qual a solução? Um dos nossos entrevistas diz, meio a brincar meio a sério “vamos fazer greve, deixar de andar de carro chapa e de comer pão”.
Já uma senhora promete que “Vou passar a fazer ‘suji’, que é farinha, açúcar e um pouco de óleo.
Só que não sei se as crianças hão-de aceitar.

Revolta popular em Maputo 2

O meu obrigado a João Carlos Schwalbach
Um assistente meu em Inhagóia e alguém que quis falar comigo do Bairro do Choupal disseram-me que a situação está tensa, com as pessoas muito coléricas.
Que se aguarda um informe governamental às 16 horas, que no Bairro do Choupal se cortaram árvores e se abriram valas nos passeios para barricar a estrada, que apenas passou um carro, de uma funerária, levando um morto.
Moradores de Inhagóia continuam agastados com o polícia que baleou pessoas (vide adendas anteriores).
15:36: um jornalista informa-me que as SAA, linhas aéreas sul-africanas, cancelaram os seus voos para Maputo.
16:05: em comunicado conjunto, o Conselho de Ministros e o Conselho Municipal da cidade de Maputo apelaram à calma na cidade e falaram de "interesses que não são benéficos para as populações".
Por sua vez, o vice-ministro do Interior, José Mandra, afirmou que nada se resolve com tumultos e que não é procedendo com tumultos que a situação dos preços se vai resolver (Rádio Moçambique, noticiário das 16 horas).
16:10: Um jornalista no terreno neste momento deu-me conta de existirem enormes filas de gente na Avenida 24 de Julho e de haver uma situação tensa defronte do edifício da Assembleia da República.
16:15: Um portal português afirma que "os protestos em Maputo foram convocados por sms". Confira aqui.
Ao contrário do que foi anunciado no blog, aconteceram os dois voos da SAA entre Johanesburgo e Maputo, segundo fonte credenciada.
O problema está no acesso ao aeroporto.
Há passageiros a cancelarem as suas viagens e há uma grande concentração de pessoas no aeroporto de pessoas que chegaram nos voos e têem receio de vir para a cidade.

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Revolta popular em Maputo



Actos de vandalismo estão a acontecer em vários pontos da cidade de Maputo em protesto contra o agravamento da tarifa dos transportes semi-colectivos, vulgo “chapa cem”, a vigorar a partir de hoje, 5 de Fevereiro.

Um número ainda não especificado de viaturas, incluindo particulares e da Polícia da República de Moçambique, encontram-se danificadas e várias vias de acesso, como a que liga a capital às restantes províncias do país.

Av. 25 de Setembro assaltado, zona de 33 andares, colocaram contentores de lixo na estrada e foram marchando em direcção ao Banco de Moçambique, não temos notícias sobre o que estarás se passando mais a frente.

Um amigo ligou-me via celular para me dizer que na Av.ª Eduardo Mondlane, quase a chegar ao "Ponto Final", populares atiravam pedras para os carros que passavam, partindo vidros, com a polícia a disparar para o ar. A cidade parece deserta.

Polícia lança gás lacrimongéneo no Bairro de Inhagóia; o polícia que baleou dois jovens parece que, afinal, baleou cinco, chama-se Balate; barricadas removidas pela polícia na estrada, barricadas recolocadas pelos populares.
Lojas fechadas, cidade sem chapas agora.
Estão encerrados: bombas de combustível, escolas, comércio formal e informal. Situação inédita na cidade de Maputo, faz lembrar um pouco, em termos de agitação popular, a transição para a independência.
Acabam de me informar que a portagem da Matola foi encerrada.
BBC reporta "revoltas nas ruas de Maputo", veja aqui, com;
Foto; Pneu a queimar "Jornal o País".



domingo, 3 de fevereiro de 2008

" PENA "

Foto; Annett Bourquin - Ilha de Inhaca - Mocambique 2007

Zangado
acreditas no insulto
e chamas-me negro.
Mas não me chames negro.
Assim não te odeio.
Porque se me chamas negro
encolho os meus elásticos ombros
e com pena de ti sorrio.
José Craveirinha
Do livro "Cela 1"

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

3 de Fevereiro


COMEMORA-SE em todo o país, o 3 de Fevereiro, Dia dos Heróis Moçambicanos.

A data coincide este ano com a passagem do 39º aniversário da morte do primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e arquitecto da unidade nacional, Eduardo Chivambo Mondlane.

Um Estado que se dimitiu

Foto; Sérgio Santimano; Bamako/Mali, Nov. 2007
A propósito da subida do preço do pão e dos transportes públicos e privados, o semanário "Savana" tem na sua edição de hoje um editorial do qual extraí as seguintes passagens:
"(...) Moçambique, onde os cidadãos elegem o Governo, mas a sua relação com este mesmo Governo termina no próprio dia das eleições. Em Moçambique, os cidadãos não gozam da protecção do Governo em todas as frentes, incluindo no que diz respeito à alimentação básica e ao transporte.
Saímos de um extremo para o outro.
Na época da pretensão socialista, os moçambicanos poderiam ter acesso a serviços e bens quase a custo zero.
Na nova era capitalista, o Estado dimitiu-se totalmente das suas responsabilidades, e o povo não tem muitas alternativas de sobrevivência.
(...) Um Governo que não tem capacidade de providenciar transporte seguro para os seus cidadãos e colocar-lhes na mesa pão aa preço acessível precisa de repensar sobre a necessidade
Enquanto isso, no mesmo semanário, o jornalista Machado da Graça critica severamente a decisão tomada pelo Ministério da Mulher e da Acção Social de mandar evacuar os reformados da APOSEMO do antigo edifício do Velhos Colonos para ali se instalar.
Obras por todo o lado, até o parque infantil anexo está ser destruído.
Os burocratas de um Ministério enorme vão ocupar o lugar onde os reformados ainda podiam respirar, remetidos que foram, agora, para uma modesta creche, algures na cidade de Maputo.
E ante este triste cenário de um Estado cada vez mais distante do seu povo, ao serviço frontal dos interesses capitalistas, encontramos no semanário "O País" quatro páginas de uma entrevista feita ao presidente da República, Armando Guebuza, na qual este se mostra muito optimista com o crescimento do país e traça um auto-retrato meritório da sua governação.